*João Gualberto Vasconcellos
A primeira constatação que podemos fazer é a de que o Espírito Santo vem consolidando um perfil bastante conservador nas suas escolhas eleitorais. Isso, contudo, não é nenhuma novidade. Basta vermos a importância que aqui tiveram os integralistas – expressão mais acabada da nossa direita no início do século XX – ou até mesmo outras lideranças de igual peso no espectro mais à direita.
No processo de redemocratização, após a ditadura de Vargas, na segunda metade dos anos 1940, foram também atuantes os conservadores do PSD, da UDN e do PRP, partidos muito importantes aqui.
Nossa trajetória partidária nunca foi de hegemonia dos partidos progressistas, embora eles tenham sido fortes em municípios como Vitória, Vila Velha ou Cachoeiro, para citar alguns deles, sobretudo o MDB, já na fase dos governos militares.
Essa inflexão autoritária mais recente, portanto, não deve surpreender quem estuda o nosso Estado, mesmo que tenhamos passado por um governo estadual do PT, com Vitor Buaiz, entre 1995 e 1998.
Nossa velha tradição já havia ficado clara na expressiva votação do ex-presidente Jair Bolsonaro, tanto em 2018 quanto em 2022. Se dependesse somente dos capixabas, ele teria sido reeleito presidente da república, no último pleito.
O embate de Renato Casagrande, no segundo turno, contra o candidato do PL, Carlos Manato, foi duro de vencer, tanto que prefeitos aliados do governador pediam votos, ao mesmo tempo, tanto para Bolsonaro quanto para Casagrande.
Nas últimas eleições municipais, o Espírito Santo seguiu forte nessa vertente mais conservadora, o que ficou claro com os prefeitos eleitos nos maiores colégios eleitorais capixabas.
Houve uma forte tendência para a recondução de quem já estava no poder, como de resto tem sido comum desde que adotamos a reeleição, ainda nos anos 1990. No Brasil, via de regra, o mandato tem sido de oito anos, com um plebiscito no meio. Só mesmo os que não têm bom índice de aprovação são impedidos, pelo voto, de permanecerem no cargo para um segundo mandato.
No Espírito Santo, o comportamento também tem sido este, o que acentua o caráter conservador das eleições, entendendo-se o conservadorismo de uma forma mais ampla.
O Espírito Santo que sai das eleições é, portanto, claramente conservador. Além disso, o governador Renato Casagrande tem feito mandatos muito voltados para obras e ações casadas com as dos prefeitos. Agindo assim, turbinou o mandato de muitos dirigentes municipais e associou seu nome a inúmeras benfeitorias nas bases regionais. Saiu o governo vitorioso dos pleitos municipais.
O governador é um homem moderado, um político tipicamente de centro e fez um grande arranjo para não enfrentar desavenças ideológicas, operando quase sempre com obras e um discurso de apoio aos cidadãos que vivem nos municípios. Com isso, transformou-se em candidato com forte favoritismo ao Senado da República, caso realmente queira disputar o cargo.
Temos, assim, outra marca desse Espírito Santo que saiu das urnas: a liderança de Renato Casagrande, junto a prefeitos que não optaram por discursos radicais, o que acentuou a tendência centrista, ou de centro-direita, nos resultados da eleição.
Outro elemento importante é a renovação geracional. Grande parte dos prefeitos eleitos nos municípios capixabas estão na casa dos 40 anos: Pazolini, em Vitória; Arnaldinho, em Vila Velha; Wanderson, em Viana; Weverson, na Serra; Renzo Vasconcellos, em Colatina; Lucas Scaramussa, em Linhares; Rodrigo Borges, em Guarapari; Marcos da Cozivip, em São Mateus.
Temos, portanto, uma nova safra de dirigentes municipais, mostrando que o eleitor quer o novo. Houve, no entanto, notáveis exceções, dentre as quais destacamos Cachoeiro de Itapemirim, com o veterano Theodorico Ferraço; Aracruz, com o Dr. Coutinho; Cariacica, com Euclério Sampaio; e Barra de São Francisco, com a reeleição de Enivaldo dos Anjos.
Assim, nossos eleitores mostram o perfil de seus desejos para o Espírito Santo: uma nova geração de prefeitos, mesmo os reeleitos, de perfil conservador, mas sem extremismos.
A velha polarização enfraqueceu e serviu para reduzir a importância da presença de Lula e Bolsonaro como grandes lideranças, dando espaço a uma construção mais de centro-direita. Essas parecem ser as razões de voto que definirão o nosso próximo governador.
*João Gualberto Vasconcellos é cientista político, professor emérito da Ufes