Ponto mais alto da cidade, antigamente conhecido como Morro da Caixa D’água, surgido da ocupação irregular da área, promovida na gestão de 1983-1988, o bairro Colina, em Barra de São Francisco, é o terceiro bairro mais propenso a conflitos por disputas de tráfico no Espírito Santo.
A declaração foi de um promotor do Centro de Apoio Operacional Criminal do Ministério Público do Espírito Santo, ao participar do evento “MPES Conecta” no último dia 24, na Promotoria de Barra de São Francisco. “O Colina só perde para a Ilha do Príncipe, em Vitória, e Central Carapina, na Serra”, disse o promotor.
A declaração do promotor, que pode parecer exagerada para alguns, causou preocupação e vem acompanhada de episódios que, se não confirmam, pelo menos provocam alertas na sociedade. Não é todo o bairro Colina que tem essa configuração, mas uma parte dominada por habitações irregulares e vielas, e onde ocorre a maioria dos crimes da cidade.

Nas últimas duas semanas, houve dois confrontos de bandidos que dominam a região com policiais militares em patrulhamento no local. O mais recente foi nesta terça-feira (30) e o outro foi no dia 13, quando a Polícia Militar recebeu denúncia de que homens armados circularam pela escadaria do bairro.
Ao se aproximarem, os policiais viram cinco homens armados. Eles tentaram fugir e um deles atirou, o que provocou o revide dos policiais. Um deles foi ferido e o outro preso.
AÇÃO DA POLÍCIA
O 11º Batalhão da Polícia Militar do Espírito Santo fez um levantamento e confirmou que o bairro da Colina é o principal centro de criminalidade de sua área de atuação, mas que isso está sendo enfrentado. Segundo nota da unidade, o trabalho apresenta resultados significativos no enfrentamento à criminalidade em sua área de atuação.
O balanço mais recente evidencia avanços concretos que refletem diretamente na sensação de segurança da população, diz a nota.
Somente neste ano, 58 armas de fogo e 1021 munições de diversos calibres foram apreendidas em operações nas cinco cidades da Área Integrada de Segurança Pública (AISP) 11: Barra de São Francisco, Águia Branca, Mantenópolis, Água Doce do Norte e Ecoporanga.
No mesmo período, as equipes cumpriram 63 mandados de prisão e mais de 39 mandados de busca e apreensão, “mostrando a amplitude do trabalho integrado e contínuo do batalhão”.

O Bairro Colina, em especial, tem recebido atenção constante da Polícia Militar, segundo informa o comando do 11º Batalhão, tendo sido palco de duas apreensões históricas – incluindo cerca de 81kg de maconha, 1,4kg de crack e 247 pedras de crack em ações distintas –, respondendo sozinho por uma parcela expressiva dos resultados de toda a unidade.
Para efeito de comparação, dos 120,64 Kg de maconha apreendidas em toda a área do 11º BPM em 2025, uma parte relevante foi retirada de circulação em operações realizadas no Colina, evidenciando o compromisso em desarticular pontos de tráfico e enfraquecer financeiramente as ações de grupos de indivíduos envolvidos no tráfico”.
Como reflexo direto, a Polícia aponta a redução considerável do índice de homicídios na AISP 11, passando de 33 registros em 2024 para 19 no mesmo período de 2025, até o final de setembro, uma redução de 42,4% no número de homicídios.
“Esse resultado comprova a eficácia das estratégias de policiamento ostensivo, inteligência e parceria com a comunidade”, informou.
Mais da metade das ocorrências foi em Barra de São Francisco, que já chegou a 10 homicídios este ano, todos tendo relação com o movimento do tráfico de droga e com envolvimento de elementos do Colina.
Em Ecoporanga a redução foi de 67% (de 12 para quatro) e em Água Doce do Norte reduziu em 71,4%, de sete para dois. Mantenópolis, que teve quatro homicídios em 2024, neste ano ainda não teve nenhum, estando a 320 dias sem crimes dolosos.
Águia Branca é o ponto fora da curva. De zero em 2024 já tem três este ano, com aumento também de roubos e tentativa de latrocínio. O município, possivelmente, enfrenta o mesmo problema que está ocorrendo na AISP 23 (Pinheiros, Montanha, Mucurici e Ponto Belo), onde o crime está se deslocando para a zona rural, menos vigiada, principalmente o movimento do tráfico de drogas.
Outro dado que demonstra a intensidade do policiamento é o volume de ações preventivas realizadas, diz a Polícia Militar. Foram executadas 16.356 operações em toda a área do 11º BPM, com 57.387 pessoas abordadas e 735 conduzidas ao DPJ em diversas modalidades de patrulhamento e fiscalizações, fortalecendo a presença policial e inibindo a prática de crimes nos cinco municípios abrangidos pelo Batalhão.
A nota diz que essas conquistas não seriam possíveis sem o apoio da população, que tem colaborado de forma decisiva por meio de denúncias anônimas: “O 11º BPM reforça a importância de continuar utilizando os canais 181 (Disque-Denúncia) e 190, ferramentas fundamentais para a identificação de suspeitos e prevenção de crimes”.
“O comando do batalhão reafirma que o trabalho segue de maneira incansável, com policiamento de proximidade, operações planejadas e integração com o Ministério Público, o Poder Judiciário e demais forças de segurança. O objetivo é claro: garantir a paz social, reduzir ainda mais os índices de violência e fortalecer a confiança da sociedade na Polícia Militar do Espírito Santo”, conclui.

PROBLEMA ANTIGO
Capitão da reserva da Polícia Militar, Valmer Simões assumiu a Secretaria Municipal de Defesa Social e da Guarda Municipal desde o início do primeiro mandato do prefeito Enivaldo dos Anjos, em 2021, e sempre apontou para o bairro Colina como reduto de criminosos que saem de lá para cometer crimes na região.
O prefeito sempre manifestou preocupação com a “criminalização da pobreza” e sempre pediu cautela ao seu secretário em relação a isso. Mas o quadro parece ter piorado nesses anos, com ocorrências de roubos, mortes, intensa movimentação do tráfico de drogas e confrontos entre traficantes e de traficantes com a Polícia Militar, que tem a região como prioridade de sua atenção para evitar que a fala do promotor de Justiça, no MPE Conecta, torne-se uma profecia realizada.
O secretário Valmer Simões aponta o apoio do prefeito e a integração das forças de segurança do município como os principais motivos para melhorar a sensação de segurança. “O prefeito está recebendo os responsáveis pelos comandos, solicitando atitude conjunta das forças de segurança e dando total liberdade nas ações”, disse Simões. “A guarda está se formando ainda, temos buscado a compra de equipamentos e armamento para a guarda, para melhorar ainda mais”, acrescentou.
Para o secretário municipal, há que se trabalhar muito tanto no Colina quanto no Estrela e no Cruzeiro. “No Colina, o Comando Vermelho e o PCC já estão brigando por território. As facções chegaram aqui. Não vão sair por vontade própria”, disse.
As forças de segurança estão em alerta com a presença de bandidos de outros Estados rondando a região. Nesta semana, câmaras de videomonitoramente flagraram quatro homens armado, que estavam em motos, no restaurante do Clube Rei Pelé. Um deles tinha uma tornozeleira eletrônica. A Guarda Municipal intensificou rondas na região.
No início de agosto, um chefe de milícia de Queimados, na Baixada Fluminense, foi localizado e preso pela Polícia no Córrego do Recreio, interior de Barra de São Francisco. Ele era foragido da Justiça do Rio de Janeiro.
Coincidentemente, na semana passada a Polícia do Espírito Santo, por meio do CIAT Norte, localizou na mesma cidade de Queimados um traficante identificado como sendo o executor do assassinato de um jovem em Santo Afonso, em João Neiva, no dia 26 de julho, em disputa de território do tráfico.
O Noroeste do Estado parece ter se tornado um grande mercado para organizações criminosas. No último dia 17, a Polícia Rodoviária Federal interceptou em Três Rios, no Rio de Janeiro, um caminhão transportando 780kg de maconha em meio a caixas de panetone. O motorista disse que havia saído do Paraná com destino a Colatina.
Em abril de 2023, a Polícia Federal prendeu em Colatina o gerente de uma empresa exportadora de café acusado de pertencer a um cartel internacional de tráfico de cocaína. Esse mesmo homem, depois foi solto e foi assassinado por dois motoqueiros em Colatina, em novembro de 2024 e até hoje o crime desafia a Polícia, que não tem nenhuma pista dos assassinos.












