Investir em Soluções em Minério de Ferro para descarbonização da siderurgia; na produção de minerais para a transição energética; avançar na descaracterização/eliminação de barragens e em projetos visando alcançar suas metas de redução de emissões de carbono. Estas são as prioridades da Vale para os próximos anos, de acordo com os planos mostrados por seus executivos nas apresentações feitas mundo afora. E para isso a empresa planeja investir, em 2024, um total de US$ 6,5 bilhões, sendo US$ 3,5 a US$ 4,0 bilhões na área de Soluções em Minério de Ferro e US$ 2,5 a US$ 3,0 bilhões para Metais de Transição Energética. Nos próximos dez anos, a expectativa é que sejam investidos, apenas na Vale Base Metals, um montante da ordem de US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões, o que certamente se configura como um dos principais planos de investimento no setor mineral.
No caso do minério de ferro, de acordo com Marcelo Spinelli, vice-presidente Executivo de Soluções para Minério de Ferro, a Vale acredita que a demanda estrutural por aço vai continuar crescendo e que a descarbonização mundial terá um efeito adicional sobre a demanda. Portanto, para atender a essa demanda a empresa se prepara para aumentar sua oferta de minério de ferro até 2026, devendo adicionar 50 milhões de toneladas a sua capacidade atual, através de três projetos principais: Vargem Grande, Capanema e S11D. Os dois primeiros, no estado de Minas Gerais, acrescentarão, cada um, 15 milhões de toneladas/ano a partir do último trimestre de 2024 e segundo semestre de 2025, enquanto o terceiro, no Pará, vai agregar mais 20 milhões t de capacidade ao Sistema Norte da Vale, a partir do segundo semestre de 2026.
“Quando se pensa na procura estrutural, a principal questão é saber quando e como a China irá diminuir ou abrandar o seu consumo. Temos algumas pessoas que não acreditam nisso, mas estou muito confiante de que a China é muito mais resiliente do que poderíamos esperar. Uma nova indústria está surgindo na China. Eles estão liderando a transformação energética mundial, produzindo os veículos elétricos, as baterias, os veículos híbridos, todos produtos de alta qualidade. Portanto, precisam de mais aço de alta qualidade. Isso implica um aumento na produção de ferro-gusa e eles precisarão de mais minério de ferro”, argumenta o executivo.
Outro fator que está remodelando o perfil da demanda por aço e minério de ferro, com maior impacto, segundo ele, é que a siderurgia, considerada uma espécie de vilã das emissões, respondendo por cerca de 10% do total emitido mundialmente, tem tecnologia para chegar ao net zero, utilizando redução direta com gás natural ou hidrogênio. Além de reduzir as emissões, a siderurgia precisa aumentar sua eficiência energética, o que requer minério de ferro de alta qualidade, que é muito mais competitivo. Conforme Spinelli, a diferença em termos de competitividade é de quase US$ 100 entre o minério de alta e o de baixa qualidade. É nisso que a Vale aposta.
Spinelli acrescenta que, para a transição energética, o minério de ferro de alta qualidade é tão importante quanto os chamados minerais críticos, nos quais a Vale está apostando através da Vale Base Metals. Ele também aponta uma lacuna na oferta e demanda do minério de ferro de alta qualidade, principalmente quando destinado à alimentação da redução direta. “Por que a Vale está pronta para apoiar isso? Existem três elementos principais aqui: o primeiro é que temos dotação. Temos Carajás. Temos minérios de alto teor. Em segundo lugar, em comparação com os nossos pares, podemos concentrar economicamente os nossos minérios. Por fim, temos desenvolvido um histórico de beneficiamento de minério. Sabemos que dominamos toda a tecnologia. Temos vantagem para fazer isso. Essa é a razão pela qual podemos resolver o problema. E vamos colocar tudo isso em ação”, afirma.
Além de se preparar para aumentar a produção do minério de alta qualidade, a Vale aposta em esquemas para estar mais próxima dos clientes, através dos mega hubs. “Hoje, já temos uma relocalização da indústria siderúrgica em busca de fontes de energia mais limpas e competitivas e um mega hub pode desempenhar um papel fundamental nesta tendência. Para apoiar isso precisamos de um produto disponível globalmente”, diz Spinelli, acrescentando que a Vale vai mais além, com o briquete verde. A empresa planeja começar a operar o seu primeiro mega hub no Oriente Médio a partir de 2027. Quanto ao briquete, no final de 2023 foi inaugurada a primeira usina de briquete verde, localizada no Complexo de Tubarão, no Espírito Santo. É a primeira unidade desse tipo no mundo. O briquete verde – uma tecnologia pioneira da Vale – é um produto aglomerado aplicado em altos fornos e fornos de Redução Direta (RD). O briquete verde da Vale permite que as usinas siderúrgicas possam produzir aço com 10% a menos de emissão de CO2. O investimento nessa primeira planta foi da ordem de R$ 1,3 bilhão. Uma segunda planta desse tipo deve operar até o final de 2024, elevando a capacidade de produção para 6 milhões t/ano.
Mas os planos da Vale são mais ambiciosos: a projeção é chegar a cerca de 100 milhões de toneladas desse tipo de produto até 2032, sendo 50% de briquete. As vantagens dos briquetes, quando comparado à pelotização, é que os custos são 50% menores, a intensidade de capital também é aproximadamente 66% menor e as emissões de CO2 são reduzidas em 80%, o que é muito atrativo para uma indústria que precisa descarbonizar.
Para o vice-presidente Executivo de Soluções em Minério de Ferro, a vantagem dos mega hubs é que a Vale pode levar para lá minério de alta qualidade e aglomerar. “Também podemos alimentar uma planta HBI próxima de uma fonte de energia competitiva. Quando fazemos isto, podemos transportar energia dentro dos metais, para alimentar a produção siderúrgica a jusante em todas as partes do mundo”.
Voltando ao minério de ferro, ele afirma que a Vale está no caminho certo para atingir 340-360 milhões de toneladas, com um portfólio melhorado, até 2026, via os três projetos já mencionados anteriormente (Vargem Grande, Capanema e S11D). O Capex nesses projetos é considerado baixo, situando-se na faixa entre US$ 45 milhões e US$ 65 milhões por tonelada instalada de capacidade, o que numa conta grosseira daria um investimento entre US$ 2,25 bilhões e US$ 3,0 bilhões para ter essa capacidade adicional.
Veja a matéria completa na edição 439 de Brasil Mineral<\/a>