O Brasil apresenta um cenário de perdas de água tratada desfavorável se comparado com os países desenvolvidos. É o que mostra um estudo do Instituto Trata Brasil em parceria com a consultoria GO Associados. A pesquisa revela que o país alcançou a 78ª posição em uma lista com 139 nações analisadas. A perda da água produzida no Brasil é hoje de 37,8%, enquanto a média dos países desenvolvidos é de 15%.
Para a presidente executiva do Trata Brasil, o país ainda não está em uma situação confortável. Luana Pretto diz que essa posição está abaixo do esperado e demonstra que o governo e as entidades envolvidas com o setor não estão se comprometendo o suficiente para oferecer um serviço de qualidade à população.
“Essa perda é subdividida em perda física, que são os vazamentos que a gente vê muitas vezes no pavimento, aflorados no pavimento de uma rua. São perdas que podem ser visíveis quando a gente consegue ver o vazamento ou ainda vazamentos ocultos, quando a gente muitas vezes tem aquela tubulação que foi rompida, que fica vazando durante muito tempo embaixo do pavimento”, explica.
Luana ainda acrescenta: “A gente tem também as perdas comerciais, que é quando a gente tem erro de medição, quando a gente tem furto, os chamados gatos”, complementa.
De acordo com o levantamento, o Brasil está distante tanto de países desenvolvidos, como de seus pares em desenvolvimento. Com a 78ª posição no ordenamento das 139 nações analisadas, o país está atrás da China (20,54%), da Rússia (26,59%) e da África do Sul (33,73%), estando à frente somente da Índia, que tinha 41,27% de perdas de água.
Cenário nacional de perdas nos últimos cinco anos
Ao levar em consideração o cenário nacional, Cariacica (ES) está entre os municípios com as evoluções de maior destaque. A região apresentou redução no índice nos últimos cinco anos – a cidade evoluiu em 34,1 pontos percentuais e apresentou apenas 25,03% de perdas de água em 2022, índice próximo da meta estabelecida para 2034 pela Portaria 490/2021 do MDR, de se alcançar 25% em perdas na distribuição (IN049).
Na opinião da advogada especialista em meio ambiente Paula Fernandes, é necessário perceber que o problema existe. Mas reconhece que trazer o problema do saneamento, do fornecimento de água para a agenda de políticas públicas é um desafio.
“A gente consegue observar inadequações já históricas na execução da política nacional de saneamento básico que, assim como é visível, não tem sido de forma alguma executada de modo a atender a população em geral”, lamenta.
Conforme o estudo, o indicador mais comumente utilizado para a análise geral de perdas no país, o IN049 – Índice de Perdas na Distribuição – busca estabelecer uma relação entre a água produzida e a água efetivamente consumida nas residências. Os dados mostram uma discreta melhora no último ano, porém o valor ainda é significativamente superior à meta de 25%.
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil