Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), junho marca o fim do fenômeno El Niño, com previsão de início do La Niña para o mês que vem. As alterações climáticas trazem alerta para os produtores brasileiros por conta da alteração no regime de chuvas.
A previsão aponta que a terceira semana de junho vai ser marcada pela ocorrência de chuvas nas regiões Norte, Nordeste e Sul, com pancadas que podem superar os 60 mm nas duas primeiras regiões e 70 mm no Sul. Na região Norte, segundo o Inmet, maiores acumulados de chuva devem ocorrer no noroeste do Amazonas, norte do Pará, Roraima, além de áreas do leste do Amapá com acumulados que podem superar os 60 mm. Nas outras áreas, os volumes devem ser inferiores a 40 mm.
Segundo o agrometeorologista e pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste, José Ricardo Macedo Pezzopane, o prognóstico de chegada da La Niña em julho mostra que o excesso de chuvas que estavam ocorrendo na região Sul do país pode diminuir. “Para o sul do país, ocorre uma tendência de diminuição no excesso de chuvas que estava ocorrendo. Isso, de certa maneira, vai começar a proporcionar um retorno da agricultura para a região, que foi muito impactada pelas chuvas”, ressalta.
Já a previsão para a região Norte, pelo contrário, é que as chuvas aumentem a partir do mês que vem com o fim do El Niño.
El Niño e La Niña
O El Niño é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico na sua porção equatorial e ocorre em intervalos irregulares de cinco a sete anos, com duração média que varia entre um ano a um ano e meio. Já o La Niña é caracterizado pelo resfriamento da temperatura das águas no Pacífico. José Ricardo Macedo Pezzopane, salienta que, caso a ocorrência de La Niña se concretize no país, pode haver impactos na agricultura.
“Ela proporciona algumas alterações no regime de clima do país e isso afeta a agricultura. Especialmente na região Sul, você tem uma diminuição na média de chuvas e um aumento das chuvas nas regiões norte e nordeste. Evidentemente que isso impacta no potencial de produção agrícola do país, porque a região sul é uma grande região produtora de grãos, então se de fato a previsão de ocorrência de La Niña se concretizar, a gente pode ter uma primavera e um verão com chuvas abaixo da média, mas isso ainda é uma incerteza”, pontua Pezzopane.
De acordo com o agrometeorologista, para as regiões Sudeste e Centro-Oeste não existe uma relação direta da ocorrência da La Niña com a mudança no regime de chuvas da região. “Então isso não deve impactar no potencial de produção para a próxima safra”, afirma.
Confira o impacto dos fenômenos em cada região:
- Efeito de El Niño (intenso): aumento exagerado das chuvas na região Sul do país e uma diminuição das chuvas no Nordeste e Norte; do país;
- La Niña: ocorre uma diminuição das chuvas no Sul do país e um aumento das chuvas no Norte e Nordeste do país.
“Para as regiões Centro-Oeste e Sudeste do país, os dados históricos mostram que não existe uma relação direta entre a ocorrência desses fenômenos e alteração no regime de chuvas”, destaca o pesquisador.
Próximo trimestre
O especialista José Ricardo Macedo Pezzopane explica que os serviços de previsão de tempo para o Brasil mostram que, para o próximo trimestre, (julho, agosto e setembro), o regime de chuvas seguirá dentro da normalidade para a maior parte das regiões. Porém, caso La Niña se concretize e com intensidade, poderá afetar o regime de chuvas.
“Pode até parecer um paradoxo, porque a região sul está experimentando nos últimos dois meses elevadíssimos regimes de chuva. E se, de fato, nos próximos meses, a chuva ficar abaixo da média, isso para as lavouras que forem plantadas, pode ser um problema”, avalia. “Mas ainda é cedo para qualquer tipo de previsão, a concorrência de efeito de La Niña, numa mudança severa das condições climáticas”, finaliza Pezzopane.
Marcelo Camargo/Agência Brasil