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Governo discute solução para R$ 15 bilhões fora do teto do Orçamento 2025

O governo federal debate com lideranças parlamentares, ao longo desta quarta-feira (12), uma solução técnica e política para os R$ 15 bilhões que estariam...

Ferrovia do Norte faz parte de uma revolução, diz especialista

Foto da capa: Kléber Lima/Ministério da Infraestrutura

O Corredor Centro-Sudeste, constituído pela malha ferroviária da Petrocity Ferrovias, autorizada e com Declaração de Utilidade Pública (DUP) já concedida para iniciar as desapropriações ao longo de seu traçado, faz parte da revolução logística brasileira, que será o grande legado da atual geração de empreendedores para o futuro do Brasil.

Esta é  a conclusão do artigo do especialista Marcos Kleber Ribeiro Félix, publicado no site ousarem.com.br no qual analisa o impacto da lei das ferrovias autorizadas para o desenvolvimento do País.

Félix parte do particular (uma shortline no Porto de Santos) para o geral (os mais de 100 pedidos de autorização para construção de ferrovias privadas) na defesa do modelo que promete transformar o modal de transporte de cargas brasileiro e aumentar a competitividade dos produtores no mercado internacional.

QUEM É MARCOS FÉLIX

Marcos Kleber Félix é  engenheiro cartógrafo pela Instituto Militar de Engenharia (1997-2001), especialista em Geoprocessamento pela Universidade de Brasília (2010) e Mestre em Transportes pela mesma UnB (2016-2018).

Ao se formar, integrou os quadros de oficiais engenheiros militares do Exército Brasileiro (2002-2005), quando passou no concurso da Polícia Federal, onde atuou até 2014, ingressando por concurso no Senado Federal como consultor legislativo.

Desde fevereiro de 2019, Marcos Félix é  assessor especial do ministro de Estado da Infraestrutura, no Governo Federal, tendo acompanhado o processo de votação do PLS 261/2018, de autoria do senador José Serra (PSDB-SP), bem como sua regulamentação e implementação.

A partir daqui, o texto representa, literalmente, a opinião de Marcos Félix, com destacada atuação no assessoramentoe legislativo à regulação do mercado de transporte ferroviário e a criação do novo marco de exploração ferroviária como atividade econômica.

O ENTUSIASMO DO SETOR PRIVADO

Em setembro de 2021, no lançamento do programa ProTrilhos, no Palácio do Planalto, o então Ministro daO  Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, fez os seguintes questionamentos: “Quantos ramais podem surgir para ligar centros de gravidade produtores às zonas portuárias? Quantos ramais podem surgir de shortlines para ligar áreas de produção a ferrovias concedidas existentes?

Ninguém imaginava – eu inclusive – que a resposta seria: mais de uma centena pedidos em menos de dois anos. O entusiasmo do mercado em investir no setor ferroviário explica-se, em parte, pelo senso de oportunidade: equilibrar a curva de demanda, estimada em R$ 700 bilhões pela CNT (confederação Nacional dos Transportes), com a oferta de uma malha ferroviária estagnada nos 30 mil km instalados na década de 1920. Atualmente, apenas 12 mil km estão em plena operação.

Segundo a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), desde o estabelecimento do instituto de outorga por autorização ferroviária, pela Medida Provisória nº 1.065, de 2021, ocorreram 108 requerimentos de novas infraestruturas ferroviárias privadas, oriundos de 52 diferentes entes privados. Desse total, 72 pedidos estão ativos, com 45 contratos já celebrados e vigentes.

A projeção de recursos privados na implantação desses empreendimentos soma aproximadamente R$ 241 bilhões, prevendo cerca de 12 mil quilômetros de novas ferrovias.

Porto de Santos, o maior do Brasil: ferrovia interna (Foto: revistaoe.info)

O Caso da Ferrovia Privada, no Porto de Santos

Três pedidos destacam-se pelo impacto no maior porto da América Latina: a construção de três pequenas linhas ferroviárias, cada uma com menos de 3 km, no complexo industrial da Alemoa. Essas linhas, lideradas por Ultracargo, Granel Química e Vopak, prometem revolucionar o escoamento de combustíveis líquidos no Brasil.

O Porto de Santos movimenta cerca de 160 milhões de toneladas de mercadorias anualmente, sendo 16 milhões de toneladas de granéis líquidos combustíveis. Atualmente, a maior parte dessas cargas é transportada por caminhões, encarecendo os custos logísticos, gerando congestionamentos e comprometendo a eficiência do porto.

O Poder da Mão Invisível da Nova Lei das Ferrovias 

No antigo modelo de planejamento central, prévio à Lei das Ferrovias (Lei nº 14.273, de 2021), nenhuma solução ferroviária foi planejada para o escoamento de combustíveis da Alemoa, mesmo com renovações antecipadas de concessões da Rumo e da MRS ou a criação da Ferrovia Interna do Porto de Santos (FIPS).

Por que 10% das cargas do Porto de Santos ficaram de fora do planejamento estatal? O foco em Brasília recai sobre problemas de maior visibilidade, enquanto concessionárias incumbentes priorizam investimentos de maior retorno, como cargas siderúrgicas, industriais e agrícolas.

Para Ultracargo, Vopak e Granel Química, o investimento de R$ 185 milhões é uma solução lógica e urgente. A nova infraestrutura ferroviária permitirá reduzir custos logísticos, transferindo cargas do transporte rodoviário, caro e poluente, para o ferroviário, mais eficiente e sustentável. Além disso, aumentará a rotação de estoques em terminais de Santos, Paulínia, Santa Helena e Rondonópolis, permitindo o transporte de diesel e gasolina ao interior e o retorno de etanol para o porto.

Com uma conexão direta aos terminais da Alemoa e à malha ferroviária nacional de Rumo, VLI e MRS, o projeto impactará positivamente a economia e a eficiência logística.

A Nova Lei das Ferrovias: Oportunidade para Soluções Descentralizadas

A iniciativa só foi possível graças à recente Lei das Ferrovias, que permite que empresas privadas construam e operem ferrovias através de autorizações ferroviárias.

Esse modelo regulatório, mais flexível e menos burocrático, abriu caminho para a instalação de uma nova infraestrutura ferroviária privada no porto de Santos após um hiato de quase 100 anos.

A cooperação entre Ultracargo, Granel Química e Vopak é um exemplo notável da aplicação prática dessa legislação, demonstrando como a iniciativa privada pode liderar soluções logísticas de grande impacto.

Cooperação Estratégica: Uma Lição de Teoria dos Jogos

Diferentemente dos litígios entre Rumo e VLI, e MRS e Cedro, pelo monopólio de corredores lucrativos, no caso dos líquidos tem havido um senso de aliança entre Ultracargo, Vopak e Granel Química.

O acordo entre as três empresas é um exemplo de como a cooperação pode superar conflitos e gerar valor compartilhado. Em vez de competirem isoladamente, elas optaram por dividir custos e compartilhar infraestrutura, maximizando os benefícios para todas as partes envolvidas. Essa estratégia de cooperação reduz os riscos individuais e aumenta a viabilidade do projeto como um todo.

Vemos essa aliança também na esfera local. Diferentemente do Governo Federal, que criticou publicamente a solução ferroviária do governo anterior, a Prefeitura de Santos abraçou integralmente o projeto da nova ferrovia da Alemoa.

Em 29 de abril de 2024, o prefeito Rogério Santos sancionou a Lei Municipal nº 4.468, que desafeta e autoriza os imóveis necessários à construção da nova ferrovia, em troca de terrenos onde serão instalados um hospital pediátrico e instalações esportivas, a um custo de pouco mais de R$ 85 milhões.

Traçado da EF030, ligando Barra de São Francisco (ES) a Brasília (DF)

Um Futuro Promissor para as Ferrovias Privadas no Brasil

A ferrovia da Alemoa é apenas o começo de uma revolução ferroviária silenciosa no Brasil.

A Lei das Ferrovias já estimula projetos semelhantes em outras regiões, como a ferrovia da Rumo no Mato Grosso, a ferrovia da Eldorado no Mato Grosso do Sul, as ferrovias da Petrocity em Minas Gerais, Espírito Santo e Distrito Federal, da GrãoPará entre São Luís e Açailândia, as ferrovias intercidades da Otmza Labs entre Brasília e Luziânia, da Sultrens entre Gramado e Porto Alegre e da TAV Brasil, entre São Paulo e Rio de Janeiro, para citarmos só alguns.

A expansão da malha ferroviária privada promete transformar a logística e a mobilidade nacionais, impulsionando o desenvolvimento regional e a sustentabilidade.

Além disso, a integração entre ferrovias privadas e a malha existente traz perspectivas de maior equilíbrio na matriz de transporte do país. Hoje, o Brasil ainda depende excessivamente do modo rodoviário, conhecido por seus custos elevados e maior impacto ambiental.

Além disso, não podemos olvidar da imensa crise fiscal que o país atravessa e seu reflexo nos investimentos públicos em ferrovias. A diversificação proporcionada pela nova legislação aponta para um transporte ferroviário mais eficiente e sustentável.

Com operação prevista para 2027, a nova ferrovia da Alemoa demonstra como a combinação de investimento privado, regulação moderna e responsabilidade social pode criar soluções inovadoras para os desafios do Brasil.

Os benefícios esperados incluem redução de custos, desafogamento do trânsito, maior eficiência logística e impactos sociais positivos. A ferrovia na Alemoa, com investimentos em infraestrutura e projetos sociais, é um marco que vai além da logística, simbolizando um futuro mais competitivo e sustentável para o país.

Com informações de Marcos Kleber Ribeiro Félix

Ferrovia do Norte faz parte de uma revolução, diz especialista

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