Um projeto que o mercado estava disposto a pagar até R$ 5 milhões por ele foi doado pelo escritor e colecionador Maciel de Aguiar, indicado ao Prêmio Nobel de Literatura de 2024 pelo conjunto da obra, a uma pré-candidata a prefeita de Niteroi, no Estado do Rio de Janeiro, com a condição de que seja executado na antiga capital fluminense.
O projeto Memorial das Etnias e das Religiões de Matriz Africana foi doado a Maciel pelo arquiteto Oscar Niemeyr (1907-2012) e esta foi a razão de o escritor capixaba doá-lo com o sonho de que possa ser executado em Niteroi, conforme noticiado pela revista Veja em sua edição online nesta segunda-feira (12).
A felizarda que ganhou o projeto foi a deputada federal Talíria Petroni (Psol/RJ). “É uma honra receber esse projeto das mãos de Maciel. Temos agora a importante missão de construir o Memorial no Caminho Niemeyer para que a nossa história não seja esquecida, porque sem memória não há futuro”, afirma a também candidata à Prefeitura de Niterói.
Além da construção do espaço, parte do acervo do colecionador, autor de 143 publicações, poderá ficar exposta no Memorial. Maciel de Aguiar é proprietário do ÁfricaBrasil Museu Intercontinental que guarda o maior acervo da historiografia da escravidão brasileira, atualmente exposto no Palácio Tiradentes, sede histórica da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
“Doei o projeto por acreditar que Talíria ganhará as próximas eleições municipais em Niterói e realizará o que me comprometi com Oscar Niemeyer”, disse o escritor e colecionador à reportagem da Veja. Ele já recebeu proposta de R$ 3 milhões pelo projeto, mas se recusou a vendê-lo.
“Da mesma forma que me recusei a receber indenização por minha luta pela ditadura, por entender que o fiz voluntariamente por um ideal, também me recuso a receber qualquer quantia, por mais valioso que seja o projeto, uma vez que ele me foi doado pelo Niemeyer”, disse Maciel, que já escreveu 143 livros, dentre eles um dedicado ao maior dos arquitetos brasileiros
Niemeyer – O Gênio da Arquitetura está ao lado de outras das obras mais conhecidas do escritor, como Pelé – O Rei do Futebol, a coletânea de poema em quatro volumes Os Anos de Chumbo, além de Ayrton Senna – O Herói do Brasil e História dos Quilombolas, uma coleção de 130 livretos baseado na oralidade, fruto de entrevistas com afrodescendentes de São Mateus, que foi um dos portos mais importantes de chegada de escravizados ao Brasil.
Foto de Capa: Joy Dornelles/Reprodução
