O terceiro sábado de outubro é marcado anualmente pelo Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita, que visa a conscientizar sobre os riscos da doença e a enfatizar a importância do diagnóstico e do tratamento adequados. Neste ano, a data é lembrada no próximo sábado (19). No Espírito Santo, a sífilis congênita – transmitida pela mãe à criança durante a gestação –é considerada um problema de saúde pública. Diante desse cenário, a Secretaria da Saúde (Sesa) tem intensificado ações de saúde, por meio da retomada do “Plano Estadual de Enfrentamento da Sífilis Congênita no Espírito Santo”.
O Plano, atualizado em abril deste ano e publicado por meio da Portaria Nº 067-R, reorienta as intervenções sanitárias feitas no Estado e municípios em resposta ao aumento do número de casos de Sífilis Congênita nos últimos anos, a fim de reduzir a incidência de crianças que nascem com a doença e alcançar o índice estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em 2023, o Estado fechou o ano com a incidência de 16 casos de Sífilis Congênita para cada mil nascidos vivos, ficando acima da média nacional, que é em torno de dez casos, e também do estabelecido mundialmente pela OMS, que é de até 0,5 casos para cada mil nascidos vivos.
De acordo com a médica e referência da Coordenação Estadual de IST/Aids da Sesa, Bettina Moulin, a sífilis é uma doença infectocontagiosa sistêmica, de evolução crônica, causada pela bactéria Treponema pallidum e que apresenta altas taxas de transmissão vertical.
“Ela pode chegar a 100% de transmissão dependendo da doença materna e da fase da gestação. A Sífilis Congênita também pode causar sérios problemas na saúde da criança. Com o Plano Estadual, estruturamos como uma forma para reorientar as nossas ações, mas também de todos os atores envolvidos, que vão desde os profissionais de saúde, em todos os níveis e a sociedade civil, para podermos mudar este cenário desde já”, explicou a médica Bettina Moulin.
A referência técnica reforçou a importância da participação e conhecimento por parte de todos sobre o cenário epidemiológico da Sífilis Congênita, em busca do enfrentamento coletivo, com a efetivação do Plano Estadual, que tem previsto, até o ano de 2027, alcançar o número de casos de 2,3 para cada mil nascidos vivos, e, até o ano de 2030, atingir a meta estipulada pela OMS, de 0,5 casos.
Entre as ações realizadas, têm-se reuniões junto aos serviços de Saúde, ao Conselho Regional de Enfermagem (Coren-ES), e ao Conselho Regional de Farmácia (CRF-ES); o reforço da Nota Técnica Nº02/24 sobre a aplicação da penicilina benzatina associada com a lidocaína para melhora na adesão ao tratamento. Além disso, a disponibilização de testes rápidos de Sífilis a todos os 78 municípios; a realização de visitas técnicas para auxiliar nas ações; e a capacitação dos profissionais de saúde, como a realização de webinários. O primeiro aconetceu nesta quarta-feira (16), e o próximo será no dia 23 de outubro, no canal da Sesa no YouTube.
“As ações já foram iniciadas e objetivamos a curto e alongo prazo qualificar ainda mais os nossos profissionais de saúde e também promover junto à sociedade a importância de sabermos que a Sífilis existe, que ela tem tratamento e tem cura. Com isso, podemos reduzir o número de crianças nascendo com esta doença, ou até mesmo, erradicá-la do nosso território”, enfatizou a referência técnica Bettina Moulin.
Testagem e tratamento contra a Sífilis é gratuito
A testagem para a detecção da Sífilis e o tratamento contra a sífilis, assim como para HIV e as hepatites B e C, são ofertados gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O teste para a Sífilis pode ser feito em unidade básica de saúde da rede pública ou nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA). Prático e rápido, ele é realizado por profissionais de saúde, que tiram apenas uma gota de sangue da ponta do dedo do paciente para análise do material. O resultado é disponibilizado em até 30 minutos.
O tratamento, também ofertado pela rede pública, é feito com o antibiótico penicilina benzatina, um medicamento seguro. Para que a infecção seja totalmente eliminada, o paciente não pode abandonar o tratamento antes do fim.
Já as gestantes e suas parcerias sexuais devem realizar o teste de sífilis e da hepatite B durante o pré-natal. A Sífilis pode ser transmitida da gestante para o bebê e, por isso, é importante a realização dos testes para que possam ser feitos os procedimentos de prevenção da transmissão vertical, isto é, casos de sífilis congênita.
Em casos de Sífilis Congênita, o diagnóstico deve avaliar a história clínico-epidemiológica da mãe, o exame físico da criança e os resultados dos testes, incluindo os exames radiológicos e laboratoriais. O tratamento é realizado com penicilina cristalina ou procaína, durante dez dias.
Sobre a Sífilis
A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) curável, causada pela bactéria Treponema pallidum. Ela geralmente não tem sintomas, mas quando apresenta, pode ser de variadas manifestações clínicas, de acordo com o estágio (sífilis primária, secundária, latente e terciária).
A depender do estágio da doença, a pessoa infectada pode desenvolver formas mais graves da doença, como no caso da sífilis terciária, que, se não houver o tratamento adequado, pode causar complicações graves como lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte. A sífilis pode ser transmitida por relação sexual sem camisinha com uma pessoa infectada ou para a criança durante a gestação ou parto.
Por que falar da Sífilis Congênita?
É importante lembrar que a infecção por sífilis pode colocar em risco não apenas a saúde do adulto, como também pode ser transmitida para o bebê durante a gestação, no que se caracteriza a Sífilis Congênita.
No Espírito Santo, o cenário epidemiológico da Sífilis Congênita é tido como prioridade, com ações definidas por meio da implementação do “Plano Estadual de Enfrentamento da Sífilis Congênita no Espírito Santo”.
Isso se deve uma vez que os dados apontam para um aumento de casos de Sífilis Congênita no Estado nos últimos anos. As estatísticas demonstram que, no período entre 2012 a 2017, a incidência de Sífilis Congênita teve aumento progressivo. Trabalhos intensos desenvolvidos em parceria do Estado com os municípios fizeram com que esta incidência reduzisse, mas em 2021 voltou a crescer, fechando o ano de 2023 com 16 casos de Sífilis Congênita para cada 1.000 nascidos vivos. O número de casos em 2023 é superior à média nacional e ao número de casos indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Desta forma, a implementação do Plano visa controlar este cenário, principalmente interromper a cadeia de transmissão vertical, uma vez que a sífilis na gravidez pode ter como consequências natimortalidade, prematuridade, baixo peso ao nascer, doença neonatal e infecções no recém-nascido.
Para evitar esse desfecho, é importante que as gestantes façam o teste para detectar a sífilis durante o pré-natal e, se o resultado for positivo (reagente), tratar corretamente, tanto a mãe quanto a parceria sexual, para evitar a transmissão, com o uso de medicação.
Números da Sífilis no Espírito Santo
No Espírito Santo, até final de julho de 2024, foram notificados 451 casos de Sífilis Congênita; 1.715 casos de Sífilis em gestantes; e 4.201 casos de Sífilis adquirida. Em 2023, foram notificados 808 casos de Sífilis Congênita; 2.618 casos de Sífilis em gestantes; e 8.129 casos de Sífilis adquirida.