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Douglas Corrêa O Ministério Público Federal (MPF) entrou na Justiça Federal com uma ação civil pública para cobrar da União e do governo do estado...

Dividir para governar: quando a política do ódio abre caminho para projetos indecentes

*Sérgio Denicoli

A pessoa pode se identificar como de esquerda ou de direita, mas quando age como torcida, há grande chance de estar sendo manipulada. Enquanto desperdiça energia atacando o adversário, instigada por líderes que admira, projetos que interessam a poucos, mas afetam a todos, passam sem resistência.

A polarização se alimenta sobretudo de pautas de costumes, símbolos simplificados e bandeiras voltadas quase sempre à vida privada.

O que de fato pesa – medidas que criam privilégios, reduzem o controle do dinheiro público, ampliam a crise fiscal, aumentam impunidades ou fragilizam instituições – costuma ser votado em silêncio, muitas vezes na madrugada.

A lógica não é nova. O lema romano divide et impera, dividir para governar, serviu por séculos como estratégia de poder. Povos conquistados eram mantidos em conflito para não se unirem contra o Império. A fórmula atravessou Maquiavel, Napoleão e chega intacta ao Brasil atual, onde a polarização fragmenta a sociedade e distrai o eleitor.

Nesse terreno florescem aberrações. A PEC da Blindagem, por exemplo, cria condições para a impunidade de crimes graves e pode transformar o Parlamento em abrigo até mesmo para traficantes em busca de proteção jurídica, para seguir cometendo delitos escorados em um mandato.

Muitos justificaram a aprovação da pauta dizendo que é uma forma de proteger grupos de ataques políticos, conseguindo apoio de eleitores cegos de paixão.

Importante ressaltar que as distorções surgem tanto à direita quanto à esquerda. O problema não é o campo, mas a cegueira de quem se recusa a enxergar o erro do lado que admira.

A taxação de importados ilustra essa incoerência. Quando Donald Trump defendeu tarifas, parte da direita brasileira aplaudiu em nome da soberania americana, enquanto a esquerda atacou como protecionismo arcaico. Quando Fernando Haddad apresentou proposta semelhante, as reações foram invertidas. Mesma política, leituras opostas. Mudou apenas a bandeira de quem a assinou.

A polarização funciona como lente única. Quem a usa só enxerga uma cor. Liberdade de expressão passa a valer apenas para o que agrada. O totalitarismo é inaceitável, a não ser quando é imposto pelo lado que me sinto integrante.

A democracia é exaltada no discurso, mas esvaziada na prática, em sociedades rachadas ao meio. No Brasil, a cada embate, o fosso se aprofunda e o resultado é perverso. Enquanto torcidas se atacam, projetos que corroem instituições e fragilizam direitos são aprovados com aplausos de quem acredita ter derrotado o inimigo.

O que se fortalece, porém, é um poder nocivo que se retroalimenta. Não é ideologia que manda nos bastidores, é conveniência. A democracia se desfaz pouco a pouco quando o cidadão troca a vigilância pela arquibancada, aceita ser torcida em vez de sociedade plural e chega a acreditar que ditadura é boa, se for para o outro. Doce ilusão.

*Sérgio Denicoli é autor do livro “TV digital: sistemas, conceitos e tecnologias”, pós-doutor pela Universidade do Minho e pela Universidade Federal Fluminense. Foi repórter da Rádio CBN Vitória, da TV Gazeta (Globo-ES), e colunista do jornal A Gazeta. Atualmente, é CEO da AP Exata e cientista de dados.

 

Dividir para governar: quando a política do ódio abre caminho para projetos indecentes
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