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Um convite, por Pedro Valls

Dia desses, lendo o respeitado jornal “The Guardian”, do Reino Unido, deparei-me com uma séria reportagem – daquelas que induzem profundas reflexões e, eventualmente,...

“Ainda Estou Aqui”: o dia em que Bolsonaro cuspiu em Rubens Paiva

O sucesso do filme “Ainda Estou Aqui” (que já faturou mais de R$ 160 milhões e foi visto por mais de 5 milhões de brasileiros) traz de volta, agora com alcance mundial, as atrocidades da ditadura militar no Brasil. Multidões torceram e vibraram em todo o País com a conquista do Oscar 2025 de Melhor Filme Internacional (o filme ainda teve indicações para Melhor Filme e Melhor Atriz, para Fernanda Torres).

Mas havia outros tantos torcendo o nariz, os mesmos que, assim como os que negam o holocausto que matou  mais de 6 milhões de judeus, não apenas defendem os métodos da ditadura militar, mas defendem sua volta e de instrumentos como o AI 5, que inaugurou seu período mais cruel.

Dentre os que idolatram os torturadores estão o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos. Recentemente, o ex-presidente, inelegível até 2030, foi indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público Federal pela tentativa de golpe contra a eleição e posse do presidente Lula, no final de 2022.

Bolsonaro na frente de seu gabinete, quando era deputado federal

Faz tempo que Bolsonaro tem essas posições. Ou seja, desde sempre. Mas um episódio foi relembrado por Chico Paiva Avelino, filho de Vera, primogênita de Eunice Paiva e Rubens Paiva, representados no filme “Ainda Estou Aqui” por Fernanda Torres e Selton Mello. O depoimento foi feito em um post no Facebook em 2018, às vésperas da eleição de Bolsonaro para Presidente.

“Em 2014, a Câmara dos Deputados fez uma tocante homenagem ao meu avô, Rubens Paiva: inauguraram um busto com a sua imagem em função de sua incessante luta pela democracia – causa pela qual ele literalmente deu a vida”, escreveu Chico em seu perfil.

“Minha família foi em peso. Emocionadas, minha mãe e minha tia fizeram discursos lindos e orgulhosos sobre a memória do pai. No meio de um deles, fomos interrompidos por um pequeno grupo que veio se manifestar. Era Jair Bolsonaro, junto com alguns amigos (talvez fossem os filhos, na época eu não sabia quem eram), que se deu ao trabalho de sair de seu gabinete e vir em nossa direção, gritando que ‘Rubens Paiva teve o que mereceu, comunista desgraçado, vagabundo!’. Ao passar por nós, deu uma cusparada no busto. Uma cusparada. Em uma homenagem a um colega deputado brutalmente assassinado.”

A postagem prossegue:

“Gostaria muito de poder conversar com o meu avô nesse momento político pelo qual passamos. Teria muito a acrescentar: foi eleito deputado federal por São Paulo em 1962, e cassado pelo AI-1 em 10 de abril de 1964. Como democrata exemplar que era, sempre lutou contra o autoritarismo e nunca encostou numa arma”.

“Infelizmente essa oportunidade me foi arrancada quando, em janeiro de 1971, ele foi levado de casa junto com minha avó e minha tia, que na época tinha 15 anos, para os porões do DOI-Codi do Rio de Janeiro, na Tijuca. Lá, foi torturado até morrer pelo aparelho de repressão montado pelo regime militar, cuja filial paulista era comandada por ninguém mais nem menos do que o Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.”

“Na época, não havia ficado claro o motivo dos militares levarem também a minha avó e minha tia. Hoje, conhecendo os métodos praticados por Ustra, sabemos que era para trazê-las à sala de tortura e pressionar o meu avô. Elas, em celas ao lado, separadas, ouviram seus gritos antes que ele fosse morto”, prosseguiu.

“O atestado de óbito só foi entregue à família 25 anos após o assassinato, em 1995. O corpo jamais foi entregue. Na Comissão Nacional da Verdade, outros militares envolvidos no crime disseram que o corpo foi enterrado e desenterrado duas vezes. Sobre o assunto, Bolsonaro debochou: pendurou na entrada do seu gabinete em Brasília uma placa que dizia ‘quem procura osso é cachorro’.”

E encerrou lembrando as referências de Bolsonaro ao conhecido torturador:

“Hoje em dia, Ustra é mais famoso não pelas atrocidades que cometeu, como torturar mães na frente de suas crianças, colocar ratos e baratas vivas dentro da vagina das mulheres, estupros, pau de arara, choques, entre outras; mas por ser o grande ídolo, chamado de herói, pelo nosso provável novo presidente, Jair Bolsonaro – que diz que seu livro de cabeceira é a história do coronel.”

Chico Paiva, neto de Rubens Paiva, e a atriz Fernanda Torres, que viveu sua avô Eunice em “Ainda Estou Aqui”

Sobre o filme, o neto de Rubens Paiva escreveu recentemente:

“Ter a história da sua família contada pelas pessoas mais incríveis do país é uma honra e um orgulho sem tamanho. Poder acompanhar isso de perto, conhecer as pessoas, ver o comprometimento delas em fazer tudo com o maior respeito, sensibilidade, dedicação, amor mesmo, foi um privilégio! Sem palavras para agradecer à genial e sensível mente de Walter Salles que capitaneou o barco, e que conseguiu juntar tanta gente igualmente genial e sensível (…) E tudo começou com o relato pessoal e brilhante do meu querido tio @marcelorubenspaiva”, escreveu Chico recentemente, referindo-se ao seu tio Marcelo Rubens Paiva, autor do livro que deu origem ao filme e tem o mesmo nome: “Ainda Estou Aqui”, publicado em 2015.

‘Ainda Estou Aqui’ em números

  • Foi aplaudido por 9 minutos e 46 segundos na estreia no Festival de Veneza.
  • Foi selecionado para mais de 50 festivais ao redor do mundo
  • Recebeu 39 prêmios antes do Oscar. O longa ganhou a categoria de Melhor Roteiro no Festival de Veneza e Fernanda Torres foi premiada como Melhor Atriz em Filme de Drama no Globo de Ouro.
  • Recebeu três indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz. Ganhou a estatueta como Melhor Filme Internacional.
  • Faturou US$ 4.264.095 (cerca de R$ 25 milhões, na cotação atual) em bilheteria no Brasil.
  • Faturou US$ 23.188.102 (cerca de R$ 136,7 milhões) em bilheteria internacional.
  • Ao todo, já faturou US$ 27.452.197 (cerca de R$ 162 milhões) em bilheteria ao redor do mundo.
  • Alcançou a marca de 5,2 milhões de espectadores no Brasil, se tornando a 18ª produção brasileira de maior público no cinema nacional.

Com informações da Veja, Terra e Revista Fórum)

 

“Ainda Estou Aqui”: o dia em que Bolsonaro cuspiu em Rubens Paiva
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