O Dia Mundial de Combate à Tuberculose é lembrado neste domingo (24), com o objetivo de aumentar a conscientização sobre as consequências da doença, descoberta há mais de 100 anos, intensificando os esforços para erradicá-la. Este ano, o tema da Organização Mundial de Saúde (OMS) em alusão à data é “Sim! Podemos Acabar com a Tuberculose!”.
Atualmente, a doença é um problema de saúde pública no Brasil e no mundo. A OMS estima que, em 2022, cerca de 10,6 milhões de pessoas adoeceram com tuberculose em todo o mundo, sendo 5,8 milhões de homens, 3,5 milhões de mulheres e 1,3 milhão de crianças.
Em relação ao Brasil, no mesmo ano, foram registrados 81 mil casos novos da doença, o que corresponde a 38 casos novos por 100 mil habitantes. Foram registrados, ainda, cerca de 5,8 mil óbitos por tuberculose no País, com 2,7 óbitos por 100 mil habitantes.
Já o Espírito Santo notificou, no mesmo ano, 1.676 casos novos da doença, o que representa uma taxa de incidência de 40,4 por 100 mil habitantes, superior ao registrado no País. Desse total, 114 evoluíram a óbito, o que equivale a um coeficiente de mortalidade de 2,7 óbitos por 100 mil habitantes, igualando-se à média nacional.
Estratégias intersetoriais
A enfermeira e coordenadora do Programa de Tuberculose do Espírito Santo, da Secretaria da Saúde (Sesa), Ana Paula Rodrigues Costa, explica que a doença é um dos agravos mais fortemente influenciados pela determinação social, apresentando uma relação direta com a pobreza e a exclusão social.
“Por isso, a interlocução com as demais políticas públicas, sobretudo a assistência social, é primordial para construir estratégias intersetoriais como forma de viabilizar proteção social às pessoas com tuberculose. É importante destacar que a População em Situação de Rua (PSR), as Pessoas Privadas de Liberdade (PPL), as pessoas que vivem com HIV/AIDS (PVHA) e imigrantes e indígenas têm maior risco de adoecimento comparado à população em geral”, alerta Ana Paula Costa.
A médica infectologista da referência estadual para o controle da tuberculose, Melissa Fonseca Andrade, ressalta que é essencial voltar atenção a essa doença milenar que, infelizmente, continua matando pessoas no mundo todo e no Brasil. “É muito importante destacar que ela tem cura e que o tratamento é oferecido gratuitamente. O diagnóstico precoce é essencial nesse processo”, ressalta.
Atenção Primária
O Instituto Capixaba de Ensino e Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi), por meio do Componente de Provimento e Fixação de Profissionais, do Programa Estadual de Qualificação da Atenção Primária à Saúde (Qualifica-APS), promove a formação para profissionais qualificarem o atendimento a pessoas com suspeita e/ou adoecimento por tuberculose, como o médico Márcio Alexandre Teobaldo dos Reis, que atende no município de Itaguaçu.
Segundo o profissional em formação, a tuberculose é uma doença endêmica no Brasil, com importância especial para a Atenção Primária, porque seu enfrentamento é prioritariamente feito pelos municípios, oferecendo o tratamento e o acompanhamento, sob a responsabilidade das Equipes de Saúde da Família (ESF).
“O tratamento da tuberculose é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É muito eficaz quando segue todo o fluxo corretamente, o que aumenta ainda mais a responsabilidade das equipes. A doença tem cura, mas, quanto mais cedo é feito o diagnóstico, buscando todas as pessoas que têm sintomas respiratórios há mais de três semanas, mais efetivo se torna o tratamento”, enfatiza Reis.
O médico frisa ainda que também é realizado um trabalho contínuo de conscientização das equipes sobre como manejar a doença, solicitar exame de baciloscopia para todos os sintomáticos respiratórios, buscar contactantes e faltosos, além de outras medidas que visem ao tratamento e à prevenção da doença.
A enfermeira Thauana Baldon também faz parte do Qualifica APS e atua em Pinheiros, no norte do Estado, e acompanha pacientes em tratamento de tuberculose. Ela explica que, após o diagnóstico, é iniciada a medicação diária, feita pelos pacientes em casa e, a dose supervisionada mensal, é feita na unidade de saúde. Além da medicação, existe o acompanhamento com o médico especialista, a avaliação dos sinais vitais e os exames de forma periódica.
“O passo mais importante para o tratamento da tuberculose é o paciente aceitar o diagnóstico e iniciar o tratamento. É uma doença estigmatizada e orientar para que a pessoa siga o tratamento é muito importante para evitar a transmissão e garantir a prevenção”, informou Thauana Baldon.
Aprendizado e crescimento profissional
Referência técnica do Programa Estadual de Controle da Tuberculose na Região Sul de Saúde, a enfermeira Licia Santana explica que a rotina dela é focada no trabalho de orientação sobre o agravo aos 26 municípios localizados no sul do estado. “Para isso, promovemos capacitações e também monitoramos os casos de notificação no sistema e-SUS Vigilância em Saúde (VS)”, esclarece.
Licia Santana detalha que, uma vez confirmada a doença, são investigadas também as pessoas que tiveram contato com o paciente. Esse procedimento, segundo ela, é realizado em parceria com o município de origem do infectado. “É nesse momento que intervimos, assessorando na dinâmica de autorização e agendamento desses testes”, complementa.
Ela salienta que atuar no Programa de Tuberculose tem lhe proporcionado maior aprendizado e crescimento profissional. “Tenho me tornado mais sensível diante das fragilidades encontradas em muitos casos de pacientes e isso nos impulsiona a querer ajudá-los, até alcançarmos a cura da doença”, resume a enfermeira.
Observatório da Tuberculose no Espírito Santo (Observa TB)
O ICEPi desenvolve, em parceria com o Laboratório de Epidemiologia da Universidade Federal do Espírito Santo (LabEPI/Ufes), o Observatório da Tuberculose no Espírito Santo (Observa TB), que realiza ações como o diagnóstico situacional da doença no Estado e uma pesquisa com gestores e profissionais de saúde.
Neste mês, o projeto também deu início a um curso de capacitação em Intersetorialidade do SUS e do SUAS no tratamento da tuberculose para 52 alunos, entre profissionais do SUS e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). O Observatório integra o Programa de Qualificação das Redes de Vigilância em Saúde (PQRVS) do instituto.
Saiba mais sobre a tuberculose:
É uma doença de transmissão aérea e se instala a partir da inalação de aerossóis oriundos das vias aéreas, durante a fala, espirro ou tosse das pessoas com tuberculose ativa (pulmonar ou laríngea), que lançam no ar partículas em forma de aerossóis contendo bacilos. Calcula-se que, durante um ano, em uma comunidade, um indivíduo que tenha baciloscopia positiva pode infectar, em média, de 10 a 15 pessoas.
Sintomas:
– Tosse há mais de três semanas;
– Febre no fim do dia;
– Suor noturno;
– Falta de apetite;
– Perda de peso;
– Cansaço e dor no peito.
Tratamento
O tratamento da tuberculose é gratuito, com duração de, no mínimo, seis meses, e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), devendo ser realizado, preferencialmente, em regime de Tratamento Diretamente Observado (TDO).
Vacinação com BCG
A vacina BCG (bacilo Calmette-Guérin), ofertada no SUS, protege a criança das formas mais graves da doença, como a tuberculose miliar e a tuberculose meníngea. A vacina está disponível nas salas de vacinação das unidades básicas de saúde e maternidades. Essa vacina deve ser dada às crianças ao nascer, ou, no máximo, até os quatro anos, 11 meses e 29 dias.
Tratamento da Infecção Latente pelo Mycobacterium tuberculosis (ILTB) ou Tratamento preventivo da Tuberculose (TPT)
É uma importante estratégia de prevenção para evitar o desenvolvimento da tuberculose ativa, especialmente nos contatos domiciliares, nas crianças e nos indivíduos com condições especiais, como imunossupressão pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV).