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Um convite, por Pedro Valls

Dia desses, lendo o respeitado jornal “The Guardian”, do Reino Unido, deparei-me com uma séria reportagem – daquelas que induzem profundas reflexões e, eventualmente,...

Tempos difíceis, por João Gualberto

* João Gualberto

Os partidos conservadores de massa surgiram e foram ganhando importância na cena política nos anos 1920 em países como França, Alemanha e Itália.

Naquele momento não se poderia imaginar a importância que alcançariam, muito menos que viriam a produzir a Segunda Grande Guerra Mundial, de trágicas consequências, com enorme destruição e milhões de mortes.

Já o movimento conservador mais recente teve início sobretudo na década de 1980, basicamente nos mesmos países europeus.

Depois do fim do império soviético, alguns países saídos da então chamada Cortina de Ferro, no Leste europeu, também construíram suas direitas em tons mais extremos, como a Hungria, a Polônia e a Romênia.

Sem ir muito adiante nos exemplos, quero dizer claramente que já há algumas décadas o mundo está outra vez chocando o ovo da serpente como no início do século XX.

As coisas agora, porém, estão mais complicadas. No livro Os Engenheiros do Caos, Giuliano Da Empoli mostra como as fake news, as teorias da conspiração e os algoritmos estão sendo utilizados para disseminar ódio e medo com a finalidade de influenciar eleições.

Os exemplos levantados pelo autor são contundentes: através das redes sociais, políticos inexpressivos, popularescos e com um certo ar histriônico vencem eleições importantes e, pouco a pouco, vão tomando de novo a cena política.

Existe algo dos anos 1930 no ar, por mais estranho que isso possa parecer a alguns.

Creio que, no caso brasileiro, a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 seja um exemplo de como a engenharia do caos, movida pelas poderosas redes sociais, criou o ambiente necessário para a eleição disruptiva que todos vimos.

Estávamos pouco acostumados com a enchente de informações distorcidas que inundaram nossas vidas a partir de meros aparelhos de telefone celular e de computadores domésticos.

As ameaças, porém, foram potencializadas pela eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos da América em 2016, trazendo na garupa fenômenos semelhantes que ocorreram em diversos países. A extrema direita passou então por enorme crescimento em termos globais.

A cena política dos Estados Unidos influencia, por cópia e por articulações de interesses, inúmeros países mundo afora. Todos nós vimos isso acontecer, com o mundo caminhando na direção dos extremismos.

Jair Bolsonaro só perdeu a eleição no Brasil em 2022 por suas fragilidades como ator político, mas a direita continua forte entre nós.

A nova chegada de Donald Trump ao poder em 2025 reafirma velhos temores: teremos tempos difíceis nos próximos anos.

Suas espantosas declarações entre a eleição e a posse, além dos atos anunciados para o início de gestão, não deixam dúvidas sobre sua enorme capacidade destrutiva, seu potencial de espalhar o mal. Pior de tudo, convocou como conselheiros Elon Musk e Mark Zuckerberg, senhores das grandes redes sociais que nos invadem todo dia.

Trump vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para liberar o espaço de ação das redes sociais sem qualquer tipo de limite por parte dos governos e das sociedades nacionais. A falta de controle das redes é uma ameaça, pois nelas poderão transitar todo tipo de mensagens e notícias.

As redes sociais são o lugar da política hoje, valem mais que partidos ou articulações governamentais, daí sua potência.

As guerras contemporâneas nascem do ódio que as redes disseminam. Poucas coisas no mundo têm mais poder do que elas.

Com Donald Trump e seus aliados dominando a cena nos próximos anos, teremos certamente muitas ameaças em andamento.

O mundo vai passar a caminhar com velocidade na direção que começou a ser traçada há quase quarenta anos. Serão tempos difíceis para aqueles que amam a democracia, a igualdade e a paz.

*João Gualberto Vasconcellos é cientista político,  professor emérito da Ufes 

CAPA: Presidente Donald Trump, dos EUA (Foto: Allison Robbert/Pool/EFE/EPA)

Tempos difíceis, por João Gualberto

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