Com o verão se aproximando, há pessoas que intensificam a busca por uma melhor forma física e hábitos mais saudáveis. Esse movimento, frequentemente denominado de “projeto verão”, costuma estimular o retorno a práticas como exercícios físicos e uma alimentação mais balanceada.
No entanto, é também nesse contexto que estratégias alimentares restritivas ganham destaque, muitas vezes, sem a devida orientação profissional. Entre aquelas que têm se popularizado nos últimos anos como método de emagrecimento rápido está o jejum intermitente, que se baseia em períodos de restrição alimentar, que podem variar entre 16 e 24 horas.
Permanecer longos períodos sem se alimentar pode causar fome intensa, resultando em uma ingestão exagerada de alimentos, como informa a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A prática pode, ainda, desacelerar o metabolismo, tornando mais difícil a perda de peso.
A Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) acrescenta que, além de estimular a compulsão alimentar, as evidências científicas obtidas em estudos controlados com humanos ainda não são suficientes para comprovar os benefícios do jejum intermitente.
A nutricionista Lara Natacci, em entrevista ao portal Dráuzio Varella, reforça a importância de sempre consultar um nutricionista antes de fazer qualquer estratégia de jejum. No período da alimentação, ela reforça que é importante trabalhar a saciedade, comendo devagar e mastigando bem os alimentos. Sua recomendação é começar a refeição por vegetais, seguidos por proteínas e, por fim, carboidratos.
Para gerar a sensação de saciedade, também outra alternativa é consumir alimentos com quantidades maiores de fibras, visto que elas demoram para serem absorvidas, o que reduz a fome entre as refeições. O psyllium, por exemplo, é uma fibra solúvel que pode ajudar nesse processo, aumentando o peristaltismo e reduzindo o tempo de trânsito intestinal, segundo o Conselho Federal de Farmácia (CFF).
A médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), Sandra Fernandes, recomenda o uso de psyllium em dose usual de 10 gramas na água ou no suco, assim como em frutas e iogurtes, meia hora antes do almoço. Ela reforça que a substância deve estar associada à mudança de estilo de vida, alimentação equilibrada e prática de exercícios físicos.
Riscos para o intestino e para a saúde cardiovascular
A popularização do jejum intermitente fez com que diferentes pesquisas fossem desenvolvidas para entender melhor o efeito da prática para o organismo. Um estudo realizado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), publicado na revista Nature, mostrou que, em animais, a realimentação após longos períodos de jejum pode causar uma proliferação acelerada de células-tronco no intestino.
Esse fenômeno pode aumentar a vulnerabilidade ao desenvolvimento de tumores, especialmente em indivíduos com predisposição genética ou que consumam alimentos carcinogênicos, como carnes processadas e açúcares refinados, logo após o jejum. O resultado indica que pessoas com histórico familiar de câncer de intestino devem redobrar a atenção antes de adotar a prática.
Outro estudo, publicado pela American Heart Association este ano, destaca o aumento no risco cardiovascular associado ao jejum intermitente. A pesquisa, que analisou mais de 20 mil adultos nos Estados Unidos, revelou que limitar a ingestão de alimentos a uma janela de menos de oito horas por dia pode aumentar em até 91% o risco de morte por doenças cardiovasculares.
No entanto, a Associação Brasileira de Nutrição (Asbran) explica que grande parte das pesquisas sobre jejum intermitente utiliza modelos experimentais com animais ou dados observacionais de jejum religioso, não sendo conclusivas para humanos. Por isso, ainda não há consenso sobre a prática entre a comunidade científica, exigindo que ela seja adotada com muita cautela.
Emagrecimento deve acontecer de forma gradual
Segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), o emagrecimento deve ocorrer de maneira gradual e sustentada, evitando métodos considerados milagrosos. A orientação é adotar mudanças nos hábitos que sejam sustentáveis a longo prazo, com acompanhamento de uma equipe multiprofissional, especialmente em situações nas quais a pessoa está muito acima do peso.
A Abeso alerta para os riscos do chamado “efeito sanfona”, caracterizado pelas constantes variações de peso, que podem impactar negativamente a saúde física e mental. Esse ciclo pode gerar frustração e sentimentos de incapacidade, dificultando a manutenção de hábitos saudáveis.
O emagrecimento acelerado também pode favorecer a flacidez. A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) explica que isso acontece porque, com a eliminação da gordura subcutânea, a pele perde a sua sustentação, podendo ocasionar bolsas, olheiras e a sensação de pele envelhecida.