O ataque ao grupo que controla o tráfico de drogas no estratégico Morro do Cruzamento, em Vitória, com a prisão de seis elementos, é apenas um passo a mais da Polícia Civil na nova estratégia adotada para buscar a paz social e combater as organizações criminosas que atuam no Espírito Santo. Os esforços saem do ataque aos pequenos varejistas para alcançar os “peixes grandes”.
O chefe de Polícia, delegado José Darcy Arruda, disse, durante entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira (23), para falar sobre a Operação Krampus, realizada na madrugada desta quinta-feira (19) e que se estendeu também por Cariacica e Serra, que a Polícia aprendeu muito durante os anos de 2023 e 2024 e que a implantação da tecnologia do Centro de Inteligência e Análise Telemática (Ciat) está possibilitando chegar ao coração do crime.
“Aprendemos que inchar os inquéritos com os varejistas somente causa frustração e dificulta a punição dos graúdos. Atacamos, agora, o coração do Terceiro Comando Puro (TCP) e prendemos o líder local do tráfico, gerentes e pessoas que faziam a logística de distribuição. Mas a sociedade pode esperar que em 2025 vamos colocar as mãos em gente que vai causar surpresa a todo mundo, bloqueando bens e ativos, como já fizemos em alguns casos neste segundo semestre”, disse Arruda.
O chefe de Polícia disse ainda que esses “peixes graúdos” são pessoas que estão deixando de investir em formas tradicionais para apostar no investimemento em organizações criminosas por causa da alta lucratividade: “Dá lucro alto, mas é ilegal e eles têm que entender que quando investem no tráfico estão investindo também em outras atividades criminosas, como roubos, homicídios, contrabando de armas. Eles serão alcançados”.
OPERAÇÃO KRAMPUS
O delegado Alan Moreno de Andrade, coordenado do Centro de Inteligência e Análise Temática (CIAT), deu mais detalhes da Operação Krampus e informou que foram presas seis pessoas com as seguintes idades: 20, 22, 26, 30, 31 e 33 anos. Os nomes não foram divulgados porque as investigações continuam, mas, assim como Arruda, ele disse que a sociedade vai se surpreender com os resultados vindouros. Eram dez mandados e foram cumpridos seis
Moreno disse que a colaboração da Polícia Militar e da Polícia Penal foi muito importante para que os agentes envolvidos na operação pudessem surpreender o chefe do tráfico. “Ele era uma pessoa muito bem protegida e escondida e precisamos usar acessos alternativos para evitar que ele fugisse. Foi uma prisão muito qualificada, porque desarticulamos toda a estrutura do tráfico no Cruzamento, que ainda não havia sido alvo nosso”, disse Moreno. “A geografia é muito complicada e usamos um aparato grande na operação”.
O delegado disse que o perfil do grupo do Cruzamento era diferente de outros grupos, até mesmo do TCP: “Eles não entravam em conflito e queriam fazer seu negócio ilícito sem muito alarde. Eram dissidentes dos irmãos Vera (líderes violentos do TCP no Estado, que fomentam conflitos armados com o Primeiro Comando de Vitória), por não concordarem com os métodos deles. Grandes traficantes não querem guerras, porque essas grandes atraem a polícia e atrapalham o negócio deles. Tinham uma relação direta de abastecimento com a organização no Rio de Janeiro”, disse Moreno.
Ainda segundo o delegado, na operação foi atacada a estrutura inteira do grupo, inclusive preso um motorista de aplicativo que usava o carro para distribuir drogas, assim como outro rapaz que era cadastrado num aplicativo de entrega de comida e usava isso como disfarce também para entregar drogas.
“Ele usava a bag de entregas e com ele flagramos 2kg de cocaína e 1kg de maconha. É muita coisa. Essa cocaína vale mais de R$ 80 mil, se vendido no varejo. Ele se passava por motoboy, mas o papel dele no tráfico era forte. Ele colocava a droga em marmitas no fundo da bag e colocava comida por cima. O motorista de aplicativo se deslocava muito de madrugada, entre meia noite e 5 horas da manhã, muito ativo. Fazia a correria, levando drogas e soldados do tráfico para cometer crimes”, disse o delegado.
A Polícia, agora, vai ficar atenta para uma possível tentativa de invasão do morro, em Jucutuquara, por outra organização, gerando violência e intranquilidade para a população.
“Com esse ataque ao TCP, queremos mostrar para as organizações criminosas que não temos preferências. Estamos investigando e vamos atacar, com inteligência, todas elas”, disse Alan Moreno.