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Integrante do MST de Nova Venécia é pós-doutorada e professora da Universidade Federal de Viçosa

Nascida e criada no Assentamento Córrego do Alegre, em Nova Venécia, Marizete Andrade, é um dos exemplos de que, dentro de um povoamento muitas vezes já visto como marginalizado, mora gente que batalha a cada dia, para alcançar seus objetivos. Ali, cada um trabalha para viver dignamente, como em qualquer outro lugar. E, como cada um vai rabiscando sua história, a “filha” do Movimento Sem Terra (MST), deu uma grande guinada em seu enredo e, se tornou pós-doutorada, também fez o doutorado e mestrado, na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com pesquisas voltadas para a “Questão Agrária e a Educação do Campo”, e hoje, é professora adjunta de História, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais. A reportagem é de Cíntia Zaché, da Rede Notícia.

Os títulos à torna a única do assentamento a ir tão longe!

Filha da agricultora Maria Andrade, 72, com cinco irmãos, que também estudaram e hoje trabalham em diferentes áreas, Marizete teve sua primeira formação no curso de Educação Física, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes/São Mateus). “Tive, ainda, um projeto de estudo aprovado, para realização junto ao Departamento de Antropologia Social, na Universidade de Saint Andrews, na Escócia, mas, precisei adiá-lo, devido à pandemia, que impossibilitou a concretização naquele momento. Atualmente, sou professora adjunta de História da Educação na Universidade Federal de Viçosa”, narra.

» Marizete Andrade é professora adjunta de História, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais. Os títulos à torna a única do assentamento a ir tão longe!

Os estudos em Nova Venécia

A menina, que não tinha menor noção do grande salto que daria na vida, iniciou os estudos como qualquer outra criança, naquela época, no Assentamento Córrego do Alegre, em uma escola multisseriada, depois disso, a vez foi de ir para a EMEF Doutor Renato Araújo Maia, EMEF Veneciano e, EEEM Dom Daniel Comboni. “Após concluir o ensino médio, trabalhei em caráter voluntário durante um ano na Associação Espírita Beneficente Lar de Abigail”, diz.

O próximo passo, foi formação na Ufes, e daí em diante, ela foi professora de Educação Física, na rede municipal de ensino de Vila Pavão, onde segundo ela, vivenciou, por mais de uma década, os dilemas, as contradições e a potencialidade de ser educadora. “Nesse período, me engajei nos movimentos em defesa da Educação do Campo no Brasil e, de forma mais intensa, na luta pela Reforma Agrária. Essa trajetória, apresentada aqui, de forma resumida, reflete um intenso envolvimento com o campo educacional, ao qual dediquei – e continuo dedicando – a maior parte de minha vida. Como marxista, não identifico na instituição escolar ou nas práticas educativas, uma vocação redentora da humanidade. No entanto, reconheço que ambas possuem tarefas importantes enquanto a transformação qualitativa do mundo ainda não se concretiza. Foi por meio da educação que, me aproximei de teorias e métodos que considero mais adequados, para compreender a realidade e suas possibilidades de transformação, sempre a partir da manifestação autêntica e, revolucionária dos trabalhadores organizados”, fala.

Sobre receber apoios para seguir sempre em frente, ela cometa: “Recebi o apoio de inúmeras pessoas: família, amigos, alunos e os educadores que, tive ao longo da minha trajetória acadêmica, como por exemplo, professores que tive, a Delma, Zenilda Colona, Mazinho Carloni, Zélio Bettero, Lucicleide Sena, Sônia Mariano e tantos outros”.

Sendo “filha” e ainda fazendo parte do MST, Marizete relata sobre o assunto, tanto polêmico, e que muitas vezes, se depara com o preconceito: “Nos anos iniciais de organização do Assentamento Córrego Alegre, durante a infância e adolescência, a atuação de setores progressistas da Igreja Católica, inspirados pela Teologia da Libertação, foi especialmente significativa, contribuindo para reduzir o preconceito contra famílias de agricultores sem-terra. No entanto, camadas sociais mais conservadoras, mantinham uma visão discriminatória”, explica a professora, que ainda completa: “Nos anos 1990, o preconceito contra as famílias agriculturas sem-terra era explícito, havia um consenso particularmente determinado pela mídia hegemônica da necessidade de criminalização dos movimentos sociais. No município de Nova Venécia, havia um corpo docente muito sensível às questões sociais, que buscava apresentar outra perspectiva da atuação dos coletivos agrários organizados. Lembro-me do esforço da professora de geografia Lúcia (in memoriam), em destacar o significado da existência dos movimentos sociais camponeses. Assim, não tive que enfrentar problemas de discriminação em sala de aula”.

“Foi por meio da educação que me aproximei de teorias e métodos que considero mais adequados para compreender a realidade e suas possibilidades de transformação, sempre a partir da manifestação autêntica e revolucionária dos trabalhadores organizados”, continua.

Para finalizar todo seu percurso de vida, e apoiar a quem buscou e está buscando pelo mesmo ou diferente enredo, Marizete divulga. “Em uma conversa com Teomir Basseti há alguns anos atrás, ele utilizou a seguinte analogia: alcançar um objetivo é como chegar a uma ilha. Cada um emprega os recursos disponíveis, seja por barco, helicóptero ou nadando. O essencial é perseverar. Teomir me aconselhou: “Marizete, se alguém que já esteve na ilha te desanimar, não dê ouvidos; verifique com seus próprios olhos.” Então, passei a seguir essa advertência. Sempre tenho propósitos e, para cada um deles, tenho uma estratégia racional para concretizá-lo”, finaliza.

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