Apesar de estar utilizando capacete – rigorosamente dentro da legislação, pois – teve a coluna cervical e o pescoço gravemente lesionados, vindo a falecer poucos dias depois.
Sua filha Samantha, inconsolável, declarou aos jornais que sua mãe era uma pessoa de bem, uma boa cidadã, que sempre respeitou as leis e que decididamente não merecia ter tido este fim.
Chamou-me a atenção o comportamento da população e o da imprensa. Soube deste infortúnio lendo um dos principais jornais do planeta, o “The Times of London”. Mas encontrei esta notícia também na respeitada BBC. No combativo “Mirror”. No “Daily Mail”. No “Metro”. No “Express”. No famoso “The Sun”.
Em todas as reportagens uma cobrança implícita: que a polícia apurasse de quem a culpa – o que imediatamente começou a fazer. Em todas as matérias, indo além do fato, saltava aos olhos o estampar de uma indignação cidadã. Afinal, como admitir-se que um país não tenha recursos sequer para tapar buracos nas ruas? Como aceitar-se que a administração pública não consiga desempenhar uma tarefa tão básica?
Eis aí uma lição notável – a do inconformismo manifestado. A da cobrança firme. A da repulsa ao imobilismo estatal. A dos meios de comunicação dando voz à população. Ao fim do cabo, morreu naquela pequena cidade do interior, antes de tudo, uma cidadã. Um ser humano. Um semelhante nosso.
Não importa que o fato tenha acontecido em uma esquecida cidadela. Ou a orientação política dos responsáveis. Sim, nada disso importa – vale apenas o fato, absolutamente sério, de que perdeu-se uma vida humana por conta de um buraco aberto em plena via pública.
Lanço um olhar sobre o meu país. Já conheci diversas pessoas vítimas do mesmo infortúnio – ora um buraco na rua a causar um acidente de trânsito, ora na calçada a ensejar uma queda. Já fui ao sepultamento de várias delas.
É curioso: em nenhum desses casos houve sequer apuração, que dizer responsabilização! Notícia, quando muito daquelas de canto de página. Por que será? Teria sido um bicho a estar estendido sobre a rua?