O município de Barra de São Francisco, na microrregião Noroeste do Espírito Santo, a 240 quilômetros de Vitória, entrou na briga para atrair a fábrica de veículos híbridos da Lecar, do capixaba Flávio Figueiredo Assis, que na última semana anunciou a intenção de instalar a unidade em Sooretama. A fábrica vai gerar 1.500 empregos diretos e 3 mil indiretos.
O prefeito Enivaldo dos Anjos (PSB) autorizou a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Geração de Empregos a fazer contato com o empresário e convidá-lo a conhecer a cidade e participar de uma rodada de conversas, que incluiria representantes do Grupo Petrocity, a fim de mostrar-lhe as vantagens que teria em escolher sua cidade.
“Vamos ter o maior hub logístico do Sudeste e talvez um dos maiores do Brasil, com um porto seco alfandegado e uma ferrovia interligada não apenas com o futuro porto de São Mateus, mas com os maiores portos do País, por conexão com a Ferrovia Norte-Sul e com a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), em Mara Rosa (GO) e até mesmo com a Vitória-Minas em Ipatinga”, disse Enivaldo.
O chefe do Executivo municipal disse também que, além dos incentivos oferecidos pelo Estado para empreendimentos na região, em Barra de São Francisco a empresa teria os incentivos fiscais da Sudene e do próprio município, que estaria disposto a ceder uma área de até 1 milhão de metros quadrados para a instalar da fábrica de automóveis.
De acordo com informações divulgadas pelo Grupo Petrocity, o traçado da malha ferroviária de mais de 2,1 mil quilômetros (com quatro ferrovias diferentes, todas com o contrato de autorização já assinado com o Governo Federal e com processo de licenciamento em andamento) deverá levar dutos de fibra ótica com tecnologia informacional e também gasoduto, “para fornecer energia para instalação de indústrias e permitir a criação de cidades inteligentes ao longo de seu curso”.
PROTÓTIPO
Conforme noticiado pelos grandes veículos de informação do Brasil na última semana, a futura montadora brasileira Lecar promete uma fábrica de carros híbridos flex desenvolvidos no País e com início de produção previsto para 2026. Na noite da quinta-feira (22), a empresa exibiu para a imprensa seu primeiro protótipo, marco inicial de um investimento projetado de R$ 870 milhões.
A montadora, criada pelo empresário capixaba Flávio Figueiredo de Assis, vai disputar um mercado tradicionalmente dominado por marcas globais e que, apesar de ter um público consumidor tido como amante de carros, nunca conseguiu ter uma marca nacional que se perpetuasse.
Depois de tentativas de empresas locais como Gurgel e Troller de se firmarem em um mercado disputado por Stellantis, Volkswagen, General Motors, Toyota e Hyundai, Assis tem investido do próprio bolso no projeto de produção de seu carro, o Lecar 459, que começou como um elétrico puro, mas foi recentemente revisto para uma plataforma de propulsão híbrida.
Oriundo do mercado de meios de pagamentos e sem atuação no setor automotivo, Assis vendeu sua empresa de cartões alimentação Le Card em 2022 e desde então tem reunido apoio para o projeto que chegou a ter até a catástrofe climática do Rio Grande do Sul como obstáculo no desenvolvimento do carro, que acabou sendo transferido de Caxias do Sul (RS) para a região do ABC, em São Paulo, em junho.
“O Brasil faz avião e não faz carro?”, comentou o empresário, durante a apresentação do novo desenho do carro na quinta-feira e se referindo à Embraer. “Se o Ozires Silva conseguiu fazer avião eu consigo fazer carro porque também sou brasileiro”, acrescentou, citando o co-fundador da fabricante brasileira de aeronaves.
A apresentação contou com participação de autoridades do Espírito Santo, incluindo o prefeito da cidade de Sooretama, Alessandro Torezani, que receberá a fábrica da Lecar e fica a cerca de 100 quilômetros da capital do Estado, Vitória.
ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo, que não possui uma montadora de automóveis, diferente dos vizinhos de região Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, concedeu isenção de ICMS para a Lecar pelo prazo de 10 anos, disse Rodrigo Rumi, vice-presidente de marketing e vendas e oriundo de montadoras instaladas no país como GM, Toyota e Caoa Chery.
Segundo Rumi, desde o início do projeto, a Lecar acumula cerca de 300 “contatos” de interessados no projeto, “entre possíveis clientes, fornecedores e concessionários”. A companhia relançou seu site na quinta-feira para marcar a exibição do novo desenho do carro: um coupê de linhas retas e design que segue tendências do mercado nacional, como faróis estreitos e traseira elevada.
Assis afirmou que o preço do carro será de R$ 150 mil e ele terá autonomia para cerca de 1 mil quilômetros graças à combinação de propulsor elétrico, que traciona as rodas, com um motor à combustão flex que alimenta um gerador. Este gerador, por sua vez, abastece a bateria que fornece a energia que faz o motor elétrico movimentar o carro.