“Façamos o elogio dos homens ilustres. Alguns foram dotados de prudência; outros guiaram o povo com seus conselhos; outros foram zelosos na busca da beleza e viveram em paz. Todos esses alcançaram glória entre as gerações do seu povo… São homens generosos, pois seus gestos de bondade não foram esquecidos. Seus corpos estão sepultados na paz, e seu nome dura através das gerações. Os povos proclamem a sua sabedoria…” (Eclo 44, 1-15).
Nessas palavras do livro bíblico do Eclesiástico está resumida a vida do nosso querido e saudoso Pe. Carlinho, como era conhecido pelo povo. Para nós Passionistas ele era o Pe. Miniguite; depois que conseguiu retomar o sobrenome italiano, ele se tornou o Pe. Meneghetti, a demonstração do seu orgulho de ter sangue italiano.
“Façamos o elogio dos homens ilustres”. O adjetivo ‘ilustre’, vem do latim ‘lustrum’, ‘lux-lucis’, e portanto, significa aquele que “dá luz… espalha luz”. O termo segue a versão grega, onde encontramos um adjetivo que contém a palavra ‘glória’ (doxa): homens ‘gloriosos’, que irradiam a glória de Deus, a sua luz (cf. Mt 5,16).
Então “homem ilustre”, literalmente, é o homem ‘luminoso’, ‘brilhante’, aquele que deu e continua dando luz com seu testemunho de vida e de suas obras.
Isso era o Pe. Meneghetti: homem da transparência, da sinceridade, da alegria; capaz de desdramatizar as situações mais conflituosas. Homem que tinha orgulho da sua terra, Barra de São Francisco; orgulho da sua família, de origem pobre, mas lutadora, honesta e solidária com os mais necessitados. A demonstração disso, lembro dois episódios que ele contava.
Um dia, ele voltou da escola para casa; estava muito feliz, pois tinha encontrado, na saída da escola, uma ‘borracha’ que já pensava guardá-la na mochila; chegando em casa, a apresenta à mãe: “Mãe, olha, encontrei esta borracha na porta da escola…”; a mãe logo rebateu: “você não encontrou… alguém que perdeu… volta para a escola e entrega-a à professora para que possa devolvê-la para quem a perdeu”. E o Pe. Meneghetti comentava: “Fiquei sem a borracha, mas aprendi o que é a honestidade”.
Outro episodio que ele contava: “Minha família era pobre, os pais trabalhavam na roça; mas eles sabiam que tinha alguém mais pobre do que eles; nas refeições, minha mãe deixava um prato de comida separado…; e eu, que queria comê-lo, perguntava: ‘para quem esse prato?’; e a mãe respondia: ‘há sempre alguém com fome que pode bater na porta…’”.
Honestidade e solidariedade: duas características que marcaram a vida do Pe. Meneghetti, como religioso passionista.
Ele nunca renegou sua origem pobre; aliás, dela aprendeu a amar os pobres e a trabalhar com eles e para eles. Como passionista, aprendeu que: “Conscientes de que a Paixão de Cristo continua no mundo até Ele voltar em sua Glória, compartilhamos das alegrias e ansiedades da humanidade a caminho para o Pai. Desejamos participar das tribulações dos homens, especialmente dos pobres e abandonados, confortando-os e aliviando-lhes os sofrimentos” (Constituições passionistas, 3).
Ele viveu e expressou essa “Paixão pela vida” dos mais necessitados nos projetos sociais da Congregação passionista: Colatina (Creche de Santo Antônio), Vila Velha (Paul, Projeto Dom Mauro), Cariacica (Jardim América, Colégio Passionista), Belo Horizonte (Barreiro, Colégio São Paulo da Cruz), Barbacena (Projeto Devida).
“Façamos o elogio dos homens ilustres”. Pe. Carlinho, muito obrigado pela sua vida no meio de nós e pelo seu testemunho de pessoa, de sacerdote e de Religioso passionista. Você foi uma pessoa “humana”, que sabia acolher, ouvir e consolar. É esse o “elogio” que fica no coração de seus familiares, de povo que você encontrou no seu ministério sacerdotal, da sua família carismática, a Congregação passionista. Reze por nós. Até lá…
Pe. Giovanni Cipriani, passionista
Missionário na Angola
Huambo, 27 de junho de 2024
3° mês de falecimento do Pe. Meneghetti
giovcipr@gmail.com
