Um dos nomes mais atuantes da cena musical capixaba, Léo de Paula vai representar a ancestralidade da percussão bantu no Fórum Permanente de Estudos Afro-brasileiros, em Bogotá, capital da Colômbia. Juntamente com a cantora Ekaterina Bessmertnova, o percussionista, compositor e produtor apresentará um recital-palestra, nesta quinta-feira (14), e uma oficina e mesa-redonda, no sábado (16), na Fundación Cultural Cayena, tradicional espaço de difusão da cultura brasileira na região.
O fórum integra o Ciclo Internacional de Conferências Poéticas da Diáspora Africana (Ciclo Afro), iniciativa organizada pelo Leitorado Guimarães Rosa, de Bogotá, instituição vinculada à Embaixada do Brasil na Colômbia, com o apoio do Ministério de Igualdade Racial e do Ministério de Relações Exteriores do Brasil.
As atividades são voltadas a alunos da Universidade Nacional da Colômbia e à comunidade acadêmica em geral. O objetivo é promover o diálogo e o intercâmbio cultural entre Brasil e Colômbia, com foco especial nas questões musicais e afrodiaspóricas.
O intercâmbio conta com recursos do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura), por meio do Edital 02/2023 – Circulação e Intercâmbio, da Secretaria da Cultura (Secult).
É a primeira vez que Léo de Paula vai se apresentar na Colômbia, país caracterizado por sua cultura rica e diversa, e pela mistura de tradições indígenas, espanholas e africanas. Conhecido por seu trabalho autoral e como professor do núcleo de percussão do Projeto Vale Música Espírito Santo, ele já levou sua arte aos Estados Unidos, Sérvia, Holanda, Inglaterra e Rússia, terra natal da companheira Ekaterina Bessmertnova. “Minha expectativa é a melhor possível. Partiremos da percussão de origem banta até chegar à contemporaneidade de gêneros musicais brasileiros”, adianta o músico.
No recital-palestra, Léo de Paula utilizará toques específicos de tambores, atabaques, congas, tumbadoras e agogôs, para exemplificar a conexão entre os ritmos associados à musicalidade sagrada de origem banta com as práticas musicais presentes na cultura colombiana.
Simultaneamente, Ekaterina Bessmertnova interpretará canções representativas dessa estética na música popular brasileira: “Tristeza e Solidão”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes; “Alguém me avisou”, de Dona Ivone Lara; “Deusa dos Orixás” e “Conto de Areia”, de Toninho Nascimento e Romildo Bastos; “Canto das três raças”, de Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, e o congo capixaba “Iaiá, você vai à Penha”.
Em um segundo momento, o músico vai trabalhar ritmos considerados ancestrais do samba, como a cabula e o monjolo, que ele entende como elementos essenciais para a formação da identidade musical brasileira. “Durante a palestra faremos um paralelo com o pandeiro, exemplificando adaptações e desdobramentos criativos dessa musicalidade de modo a influenciar contextos artísticos mais amplos”, observa Léo de Paula. Dentro dessa atividade ele pretende demonstrar como o funk, o samba e a música instrumental derivam dos toques sagrados de origem banta.
Na oficina e mesa-redonda, o músico abordará curiosidades históricas e culturais acerca da cultura banta, de modo a propor o diálogo com outras expressões artísticas. “O objetivo é contribuir para a construção de referências positivas sobre nossa subjetividade e pertencimentos, privilegiando uma pluralidade de saberes e expressões, com foco na valorização da identidade negra”, destaca.
Herança africana
Para o professor visitante na Universidade Nacional da Colômbia e organizador do Ciclo Afro, Marcos Ramos, a participação de Léo de Paula e Ekaterina Bessmertnova no Fórum Permanente de Estudos Afro-brasileiros é parte fundamental de um movimento mais amplo de aproximação entre Brasil e Colômbia, mediado pelo elemento afrodiaspórico.
“Há muitas coisas que unem esses países, mas, sem dúvida, um dos eixos centrais é a história de uma herança africana como valor civilizatório. As pesquisas do Léo em torno das musicalidades centro-africanas, sobretudo, contribuem significativamente para uma compreensão mais aprofundada dessas dinâmicas culturais que tanto estão presentes no Brasil quanto na Colômbia”, afirma o professor.