O RAPAZ QUE FOI EXPULSO DO VELÓRIO
Até completar os meus quinze anos eu não passava em rua onde houvesse velório. Caso andasse pela rua do cemitério eu virava a cara para o outro lado. Com o passar dos anos e cônscio da finitude do homem passei a me acostumar com o tema. Hoje sou capaz de ficar noite inteira em velório. Alguns são divertidos, pois as piadas correm soltas em meio ao cafezinho
e pão doce, biscoitos e outras coisinhas de comer. É preciso tomar cuidado para não profanar o lugar e nem desrespeitar a dor daqueles que perderam o ente querido. Tenho um cunhado que conseguiu ser expulso de um velório. O rapaz e seu fiel escudeiro andavam de velório em velório procurando diversão e comida. Não é atoa que conta hoje com 150 kg. Um triste dia ele se excedeu nas gargalhadas e uma filha da extinta veio ao seu encontro e lhe passou o sermão. Por favor, respeitem a despedida de mamãe. Do jeito que estão comportando é melhor irem embora. O tio dos meus meninos retrucou e falou para a moça: – Dona, eu e meu colega aqui é que estamos segurando este velório. Se a gente for embora só vai ficar os parentes. -Pelo amor de Deus, não se vá, não me abandone, por favor. Eu não vou ficar aguentando os choros falsos de minhas cunhadas.
Texto: Creumir Guerra
Creumir Guerra é Promotor de Justiça no Estado do Espírito Santo
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