‘Não passavam a bola pra mim, mas conquistei meu espaço’, diz 1ª menina a jogar futebol entre meninos em torneio oficial

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Uma menina de apenas13 anos realizou um marco importante na história das mulheres no futebol no Espírito Santo. Liz Valverde foi a primeira a jogar entre meninos em um torneio oficial no estado. Um desejo que já fazia parte da vida da zagueira desde muito novinha, quando começou no esporte. A reportagem é de Viviane Lopes, do g1 ES.

Liz já tinha tentado jogar em outros torneios oficiais e tinha sido barrada em todos. Nenhum deles permitia a participação da menina. Mas, a partir do dia 8 de março de 2023 (Dia Internacional da Mulher), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) regulamentou o futebol misto em competições oficiais amadoras.

Sete meses depois, Liz pôde estrear em campo em um torneio oficial. A jogadora é atleta do Porto Vitória desde 2019 e joga com meninos desde o início da prática esportiva, em 2018, com apenas 8 aninhos.

E a estreia foi em grande estilo. Ela ajudou o atual campeão Porto Vitória a derrotar a Desportiva Ferroviária, por 2 a 1, no Estádio Engenheiro Araripe, em Cariacica. Sem se intimidar, a zagueira jogou toda a partida, ganhou divididas, travou um chute dentro da pequena área e mostrou eficiência também nos passes.

Liz começou a jogar futebol com 8 anos de idade — Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Liz começou a jogar futebol com 8 anos de idade — Foto: Reprodução/Acervo pessoal

A jovem zagueira disse que começou a praticar o esporte por influência do irmão, que é goleiro.

“Eu comecei jogando com o meu irmão em um campinho com os amigos. Foi assim que criei essa curiosidade. Meu irmão entrou em uma escolinha e eu pedi para os meus pais para jogar também. Naquela idade eu não sabia muito bem o que eu queria. Eu comecei jogando de atacante, todo mundo quer começar fazendo gol. Mas os meninos não passavam a bola para mim. Aí eu conversei com o meu pai para ver se eu poderia mudar de posição e eu virei zagueira”, contou Liz.

Os pais, o advogado Luciano Olímpio e a empresária Polyana Valverde, contaram que desde o início a filha só jogava com meninos.

“Ela sempre esteve apta, mas nunca podia participar. Não tinha nem expectativa de tentar. Ela só jogava em escolinha, tentou participar do estadual, mas foi barrada. Ela nunca jogou no futebol feminino, ela só conseguia treinar com meninos. Infelizmente, não tem um trabalho com foco nas meninas”, disse o pai.

Liz ainda encontra algumas dificuldades pelo caminho. Como, por exemplo, não ter um vestiário feminino e ter que ouvir vários comentários machistas que os pais, principalmente, escutam durante as partidas em que a filha joga.

“Tem reação em plateia de pessoas dizendo: ‘como é que perde para uma menina’ e até ‘a menina tá jogando melhor que o time todo’. Mas a Liz sempre encarou isso de uma maneira leve”, comentou o pai.

A menina é zagueira do time Porto Vitória desde 2019 — Foto: Reprodução/Acervo pessoal

A menina é zagueira do time Porto Vitória desde 2019 — Foto: Reprodução/Acervo pessoal

A jogadora disse que tenta não ligar para os comentários negativos e só foca no seu rendimento no jogo, dentro de campo.

“Eu faço isso com tudo da vida, só foco e deixo o resto pra lá, não tem porque ligar. Eu tive que conquistar meu espaço, mas os meninos me tratam muito bem, me respeitam e passam a bola pra mim”, contou Liz.

Mas, além de comentários machistas, os pais também disseram que são abordados por vários outros pais que têm filhas com vontade de jogar, mas se sentem desencorajadas. Sobre isso, Liz sempre diz que tenta incentivar outras garotas a seguirem o sonho.

“Uma vez uma menina pequenininha que tá começando a jogar veio falar comigo, pediu pra tirar foto. Espero que possa ajudar elas a participarem de mais torneios, espero que elas possam se inspirar em mim e conseguir jogar”, comentou a zagueira.

Liz já participou de muitos campeonatos, mas não podia participar de torneios oficiais — Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Liz já participou de muitos campeonatos, mas não podia participar de torneios oficiais — Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Sobre as inspirações, a jogadora mirim disse que um dos maiores ícones não poderia deixar de ser a jogadora da Seleção Brasileira Marta.

“Eu jogo porque eu gosto. Mas a Marta, claro, eu espero um dia conquistar o espaço que ela conquistou”, relatou a jogadora.

Para poder seguir o alto rendimento, Liz tem uma rotina bem regrada. Ela acorda de manhã e vai para a escola, almoça em casa e todos os dias vai treinar no Porto Vitória, que fica na Serra, Grande Vitória. E nos finais de semana quase sempre ela participa de competições.

“Eu tenho que estudar, ir bem na escola, mas eu me esforço pra poder conciliar. Eu pretendo virar jogadora profissional, como zagueira. Sonhar grande mesmo, quero um dia jogar para o Barcelona”, disse.

Os pais acompanham todos os jogos da filha — Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Os pais acompanham todos os jogos da filha — Foto: Reprodução/Acervo pessoal

Agora, os finais de semana da jogadora estão tomados pelo campeonato estadual sub-13. O próximo jogo é neste sábado (28), às 13h, no Estádio Municipal Arlindo Villaschi, em Viana.

“Espero que a gente possa jogar muito bem, fazer o que a gente sabe. Estou otimista pra poder dar o meu máximo”, relatou Liz.

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