FIGURA DE ESTILO OU DE LINGUAGEM É PARA COMER?

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ROSA

 

Volto aos meus bons tempos de escola, ensino médio, na Escola Job Pimentel da Diretora Aurora Nascimento, na aula de Português da Professora Marta do Antulho, para perguntar se este negócio de figura de estilo ou de linguagem é de comer.

 

Lidar com as palavras ou construções de frases da nossa velha língua portuguesa não é brinquedo não, ainda mais quando damos aos termos um sentido conotativo ou figurado. Professoras, como viver sem elas? É evidente que naquela época não poderíamos viver sem a Martinha, mas me perdoe o anacoluto, pois fiz uma interrupção na seqüência lógica da oração deixando um termo solto, sem função sintática.

 

Mas, voltando aos estudos, a Martinha sofria com aquele monte de alunos desinteressados pela nossa língua mãe.  É preciso lançar mão da anáfora para descrever a situação da mestra: Ela falava, ela gritava, ela expulsava, entretanto, ela era tudo de bom!

 

Eu tenho que admitir que eu era um cara de pau, pois respondia tudo direitinho usando o meu livro do professor. Só mesmo usando “óleo de peroba”. Dentro de mim existia um aluno bom e um mau estudante. Esta é minha tese e outra pode ser a sua antítese.
Também não posso me esquecer do Joaquim do Carrinho. A antonomásia -substituição do nome próprio pela característica que o distinga- me permite não citar o nome completo do Joaquim. O uso cotidiano da alcunha nos faz esquecer o nome.

 

Uma verdade é que pode ser injusto citar os nomes de alguns professores, pois todos foram importantes na nossa formação. Todos faziam uso do apóstrofo ou invocação: Meninos, calem a boca! Ó meu Deus! Mereço tanto sofrimento?

 

Uma coisa que eu gostava de estudar era os vícios de linguagem e as figuras de estilo. Gostei da palavra Catacrese – metáfora tão usada que perdeu seu valor de figura e se tornou cotidiana, não representando mais um desvio: céu da boca; cabeça de prego; asa da xícara; dente de alho. Para quem não sabe o que é metáfora, é um tipo de comparação em que o conectivo está subentendido. O segundo termo é usado com o valor do primeiro. Tipo: O Creumir é um fofo.
Não podemos negar que há dias que morremos de saudades dos tempos de escola. É claro que se trata de uma hipérbole, pois, no meu caso, não estou afim de passar desta para a melhor.  Falar nisto,  é eufemismo puro falar que alguém passou para a melhor. É um jeito de evitar a triste realidade.
A Ironia é a marca registrada de qualquer aluno. O bicho é sarcástico ou depreciativo. Depois de estudante eu fui professor e pude conhecer este lado dos pestinhas.

 

Terminada a aula a professora dizia: Não esqueça de lê Machado. Chegava em casa e minha mãe falava que era para eu comer o prato todo. No Genésio eu comia o Maria quebrados. O Rio Grande era o mais vendido. No alto falante tocava o Roberto Carlos. Aos domingos eu nao botava os pezinhos naquela venda. O produto mais vendido era o Bombril. Dona Gecy era uma pessoa de bom coração. Quanta Metonimia, Eu tinha que ler o livro e comer toda comida; Maria é o biscoito; O arroz era do sul; tocava a musica e não o Roberto. Aos domingos eu não colocava o corpo inteiro no serviço. Ninguém sabia o que era esponja de aço. O coração da patroa guardava bons sentimentos.

Psiu! Presta atenção! Neste tempo eu aprendi que onomatopéia é o uso de palavras que imitam sons ou ruídos.

“Estou cego e vejo. Arranco os olhos e vejo.” (Carlos Drummond de Andrade). O meu autor preferido era cheio de paradoxo.

Não me venha com prosopopéia, por que a vida me  ensinou humildade.
Posso afirmar que escutei com meus próprios ouvidos as lições de vernáculo, mas do pleonasmo ninguém escapa. O problema é quando ele é vicioso e você diz: subir para cima; entrar para dentro; monocultura exclusiva; hemorragia de sangue.

Termino pedindo perdão a minha professora de português. Afinal, os alunos somos folgados mesmo. A Silepse me salva desta vez. Havia muito aluno na sala, colavam descaradamente.

Esta saudade doce e aguda me espeta. E esta mistura de paladar e tato tem nome: Sinestesia.

 

Beijos para as minhas professoras.

 

Texto: Creumir Guerra
Creumir Guerra é Promotor de Justiça no Estado do Espírito Santo

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