Imagine passar por quatro estados e percorrer 760 quilômetros a pé. O que parecer ser impossível, está se tornando realidade para oito romeiros capixabas. Há 10 dias, o grupo, entre 45 e 68 anos, saiu de Afonso Cláudio, na Região Serrana do Espírito Santo, em direção a Aparecida do Norte, no interior de São Paulo para celebrar o dia da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida. A reportagem é de Viviann Barcelos, g1 ES
Ao todo, serão 20 dias de caminhada e a previsão é chegar ao destino no dia 10 de outubro. Com o apoio de um micro-ônibus, que leva objetos pessoais dos fiéis, e de um carro, que leva água, café e alguns alimentos, os romeiros andam cerca de 40 quilômetros por dia. Eles que preparam o próprio café da manhã, almoço e jantar na estrada.
A expectativa dos romeiros é chegar à Aparecida do Norte, onde está localizado o Santuário Nacional de Nossa Senhora da Aparecida, no dia 10 de outubro para descansar até o dia da padroeira, celebrado dois dias depois. Após a missa dedicada à santa, o grupo vai retornar ao Espírito Santo de ônibus e carro que prestou apoio.

Com apoio de ônibus e de carro, romeiros que saíram do ES caminham cerca de 40 km por dia para chegarem a SP — Foto: Arquivo pessoal
Com apoio de ônibus e de carro, romeiros que saíram do ES caminham cerca de 40 km por dia para chegarem a SP — Foto: Arquivo pessoal
Neste sábado (30), segundo o romeiro José Luiz Correa Vieira, de 58 anos, o grupo já tinha percorrido 361 quilômetros e a caminhada seria em direção a cidade Três Rios, localizada no Norte do Rio de Janeiro.
Os fiéis que estão fazendo o trajeto são:
- Lucia Helena Saither Hortelan, 68 anos
- Mhirtes Kuster, 63 anos
- José Eraldo Dias, 62 anos
- Maria de Lourdes Tadino Lima, 53 anos
- Edson Dias Lima, 53 anos
- Nelson Dias, 59 anos
- José Luiz Correa Vieira, 58 anos.
- Chirlei Ribeiro de Freitas Marinho, 45 anos
- Wedervaldo de Sousa Santos, 36 anos (motorista)
- José Pedro Coimbra de Oliveira (apoio)

Cada fiel tem um pedido ou agradecimento especial. Grupo saiu do ES e vai até SP caminhando. — Foto: Arquivo pesaoal
Cada fiel tem um pedido ou agradecimento especial. Grupo saiu do ES e vai até SP caminhando. — Foto: Arquivo pesaoal
É a segunda vez que a romaria é realizada por féis de Afonso Cláudio. A primeira aconteceu antes da pandemia da covid-19, em 2019, com um grupo formado por 14 pessoas.
“Eu disse a uma amigo que eu tinha vontade de fazer caminhar até Aparecida Norte, mesmo que sozinho. Naquele momento, ele disse que iria comigo e, a partir disso, outras pessoas se interessaram na viagem. Fizemos a romaria e foram momentos de muita fé”, relembrou José.
O fiel explicou também que cada um tem um motivo especial para participar da romaria, como pedido de cura do câncer e depressão para familiares, agradecimento ou só por gostar de estar com os amigos.
“Independente da complexidade, cada um tem no coração um pedido especial”, comentou.
Para o senhor José Eraldo, por exemplo, trata-se de uma caminhada para fortalecer a própria fé.
“Sou muito devoto de Nossa Senhora e por isso estou caminhando. Quero chegar lá caminhando”, destacou.
Segundo os romeiros, a caminhada começa todos os dias de madrugada e termina por volta das 17h. Apesar da motivação durante o dia, com orações e cantos, José Luiz disse que é impossível, às vezes, não ceder ao cansaço.
“A maior queixa não é nem calo no pé, mas dormir pouco. Nesses primeiros dias, a temperatura estava muito alta e a gente levantava de madrugada para fazer a caminhada. Para ter ideia, em alguns dias, a gente acordou 2h da madrugada pra começar a caminhar às 3h”, disse.
No caminho, também há imprevistos como quando a bateria do carro de apoio acabou entre os municípios de Brejetuba e Muniz Freire, ainda no Espírito Santo, e todos precisaram empurrar o veículo.
Com a queda das temperaturas na Região Sudeste do Brasil, José destacou que o grupo passou iniciar a caminhada diária às 4h da madrugada e terminar por volta das 17h.
” É impossível não dizer que andar 40 quilômetros por dia, todo dia, você não se cansa, não estressa a musculatura do corpo. Mas a motivação pela fé e por um propósito especial ajuda muito. A gente ora durante o dia, a gente reza o terço, a gente sempre está com o pensando em Deus. Existe o cansaço, existe os calos nos pés, dores musculares, mas os propósitos falam mais alto”, disse.
A fiel Lúcia disse que a caminhada fica cada dia mais difícil.
‘São muitos obstáculos, que vão ficando cada vez mais difíceis, mas também ficamos mais fortalecidos pela fé”, disse.
José Luiz destacou ainda que há muito aprendizado no trajeto para os romeiros.
“Convivência é sempre um desafio, ainda mais entre pessoas diferentes. A gente sempre costuma repensar na vida cotidiana junto com os familiares, com a sociedade de forma geral. A gente vê muita coisa boa, mas muita coisa errada também. Um exemplo do que vemos muito é muito lixo na estrada e a gente tenta reforçar os valores que a gente tem de respeito, cuidado, empatia, etc”, disse.
Já o Edson Dias destacou ainda que a parceria do grupo é fundamental para que a romaria seja realizada. Desta forma, os fiéis aprendem ainda mais sobre respeito e amizade.
“É uma caminhada de parceria, um ajudando o outro, respeitando a limitação do outro, porque, às vezes, tem uma pessoa que tem dificuldade maior de caminhada. Então, a gente aprende sobre os próprios limites e o limite das pessoas que estão ao nosso lado”, comentou.

Grupo de 10 fiéis saiu de Afonso Cláudio, no ES, caminhando até Aparecida do Norte, em SP — Foto: Arquivo pessoal
Grupo de 10 fiéis saiu de Afonso Cláudio, no ES, caminhando até Aparecida do Norte, em SP — Foto: Arquivo pessoal