Promotor de Justiça lança livro “A Justiça é Séria. Mas nem Tanto”Natural de Mantenópolis/ES, o Promotor de Justiça Creumir Guerra nasceu no ano de 1966 e iniciou a carreira, aos 13 anos, como balconista. Foi técnico em contabilidade, professor e advogado. Ingressou no cargo de Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) no dia 1º de abril de 1997.
Bacharel em Direito pela Fadic (Faculdade de Direito de Colatina), onde também se especializou em Direito Penal. Posteriormente, especializou-se em Processo Civil e fez o curso de Mestrado na Fadivale (Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce), Governador Valadares/MG. O curso de Doutorado foi feito na UMSA – Universidad Autónoma del Museo Social Argentina, Buenos Aires – Argentina.
O livro traz uma série de contos, baseados em experiências vivenciadas pelo Dr. Creumir, no meio jurídico. Muitos deles aconteceram quando exercia a advocacia, e outros, no seu tempo de Ministério Público. “É evidente que contei de forma a não identificar as pessoas que são os personagens, com o cuidado de não expor alguém em situação vexatória”, disse o autor do livro.
Segundo ele, o cotidiano de quem trabalha com o direito criminal é estressante. As audiências para a oitiva de testemunhas e inquirição de acusados são cansativas e o Juiz, o Promotor de Justiça, o Advogado e os auxiliares do magistrado ficam ouvindo narrativas de fatos criminosos diariamente
Em “A justiça é séria. Mas nem tanto” o Promotor traduz com muito humor os bastidores do meio jurídico e mostra a relação estreita que existe entre a lei e a sua aplicação prática, usando contos pitorescos. Tudo começou com simples publicações na rede social Facebook, no ano de 2011, as quais os amigos curtiram. Naquela época, pediram para o autor reunir os textos postados em um livro. “Selecionei as que estão no livro e outras eu deixei de lado. Depois da escolha, escrevi várias que ficarão para a segunda edição revista e ampliada.”
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O livro pode ser encontrado na Banca da Praça, em Barra de São Francisco-ES. Os lucros serão destinados para uma entidade que presta serviço social. Veja a seguir entrevista com o autor:
AESMP – O senhor ingressou no Ministério Público do Estado do Espírito Santo no ano de 1997. Como foi o início de sua carreira como Promotor de Justiça?
Dr. Creumir – Fiquei muito empolgado quando tomei posse como Promotor de Justiça. Havia advogado por quase sete anos, de 1990 a 1997. Fui designado para a Vara do Júri de Colatina, quando na época, tinha atuado em vinte e um julgamentos como advogado. Senti muita dificuldade ao passar da defesa para a acusação. Na defesa, o advogado pode divagar e semear dúvidas. Ao Promotor impõe-se a obrigação de provar, baseado nas provas dos autos. No começo, sentia-me engessado. Naquela época, faltava estrutura no Ministério Público, que ainda funcionava dentro dos fóruns. O ofício que enviei ao Dr. Elcy de Souza, então Procurador-Geral de Justiça, foi escrito em máquina de datilografia.
O que distingue o livro “A Justiça é séria. Mas nem tanto” editado pela Above Públicações: Organização, Representações e Trajetórias?
O livro conta fatos reais, acrescido de uma dose de humor. Não é um livro de piadas. No dia-a-dia, fatos engraçados acontecem, embora o local onde aconteça exija solenidade.
O que o levou a escrever: “A Justiça é séria. Mas nem tanto” em que reúne as anedotas mais conhecidas do judiciário local?
Na verdade não são anedotas. São experiências vivenciadas por mim ou por colegas. É evidente que contei de forma a não identificar as pessoas que são os personagens, tendo o cuidado de não expor alguém à situação vexatória. O que me levou a escrever tal obra, foi o uso do facebook. Comecei publicando na rede social e os amigos deram a ideia do livro.
O livro mostra histórias onde os atores trabalham com o direito criminal. Por que esse foco?
A maior parte do meu trabalho foi com o direito criminal. Foi ali que os fatos se deram.
Diante de tantos contos pitorescos engraçados, por que a história, a justiça pode esperar, é a que mais gosta?
Eu havia recebido uma denúncia que duas menores estavam se prostituindo em uma “boate”. A proprietária do estabelecimento foi presa em flagrante. No seu interrogatório, ela foi advertida que explorar a prostituição alheia é crime. Quando se trata de menores, a situação é mais grave. Embora a prostituição seja a profissão mais antiga que existe no mundo, como dizem alguns, a exploração feita por terceiros é crime. A mulher foi colocada em liberdade, mas advertida de que deveria fechar a “boate”. Depois de refletir, já no final, ela pergunta ao juiz: Não dá pra esperar passar a safra de cana? É nessa época que a gente ganha um dinheirinho. A mulher estava perguntando se a justiça poderia esperar passar a safra de cana. Ela não sabia que a justiça pode esperar muito mais. Ela não sabia que a justiça leva mais de dez anos para julgar uma ação de improbidade administrativa.
Poderia citar mais três pitorescos publicados no livro?
A história, “O doente mental é normal, doido é o promotor”, é muito boa. Retrata a decisão do juiz que colocou em liberdade uma pessoa com doença mental, contrariando a vontade do promotor. Na audiência, o acusado demonstrava o seu estado de saúde metal, batendo a cabeça na parede e perguntando ao juiz se poderia tomar “atrás do saco” (nome de uma marca de aguardente). Outra que merece destaque é a da mãe que para acobertar os crimes da filha afirmou que a mesma havia falecido, sendo a afirmação certificada pelo oficial de justiça. Depois se descobriu o paradeiro da acusada. O caráter da mãe era o mesmo da filha. Também gosto da história do acusado que arrolou um vizinho para falar de sua conduta social, esperando que a testemunha falasse bem a seu respeito. No dia, a pessoa arrolada, um senhor já na melhor idade, falou que o avô e o pai do rapaz eram pessoas trabalhadoras e honestas. Entretanto, não sabia a quem o acusado havia puxado, já que era ele quem furtava tudo na região onde morava. Disse ainda que, após a prisão do acusado, os furtos pararam.
Como foi para o senhor, traduzir com muito humor, os bastidores do meio jurídico?
Eu gosto de contar histórias. Foi muito gratificante porque não sabia que as pessoas teriam o interesse que hoje está se revelando.
Fale um pouco sobre a repercussão de suas publicações na rede social facebook, o gosto pela escrita e essa produção de conteúdo que tem como foco o judiciário e a relação que existe entre a lei e a sua aplicabilidade?
A repercussão no facebook foi que me motivou a publicar as histórias. As pessoas passaram a me cobrar histórias, caso eu demorasse postá-las. Os comentários eram sempre positivos. Publiquei as histórias porque tem muita gente que ainda não tem o hábito de fazer uso de rede social. Na verdade, eu nunca parei para escrever nada que não fosse relacionado ao trabalho. Gosto muito de ler. Leio vários livros por ano e, às vezes, leio dois ou três ao mesmo tempo. O foco do livro foi o cotidiano bem humorado da vida forense, que na maioria das vezes, é cansativo e estressante. Lei não é sinônimo de justiça. A norma posta é a justiça possível, é a média da vontade de quem nos representa nos parlamentos. Na prática, diz-se que uma lei pegou ou não pegou. A lei que pega é aquela que é tida como justa pela sociedade e, por esta razão, se torna aplicável. Se a lei for injusta, não pega porque não reflete a vontade da maioria da sociedade.
Quando será publicado o livro? Gostaria de acrescentar mais alguma informação relevante?
O livro foi uma produção custeada por mim mesmo. Não fiz nenhuma cerimônia de lançamento. Estou vendendo quase que pessoalmente e, também, remetendo pelo correio. O livro encontra-se disponível em ebook, na amazon.com. Não tenho objetivo de ter lucro com o livro. O valor arrecadado será doado a uma entidade que presta serviços sociai
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