Dois turistas que estão de férias em Capitólio (MG) contaram que fizeram um passeio na sexta-feira (7), no Lago de Furnas, um dia antes de um deslizamento de pedras atingir embarcações no local. O acidente deste sábado (8) deixou sete mortos. As informações são da Rede Globo.
Eles estão em uma excursão e pretendem voltar ao Espírito Santo, onde moram, neste domingo (9).
“Ontem foi um passeio super divertido, a gente se divertiu muito com nossos amigos, nós estamos em excursão aqui, mas ainda assim desde ontem a gente percebeu que o clima não estava tão favorável assim. Choveu bastante durante o passeio, inclusive a gente ainda passou por um processo de tromba d’água que foi bem assustador, felizmente já foi bem no final do passeio, então a gente ficou em total segurança, tudo ok”, disse Heron Ventura.
Os capixabas relataram como foi saber da tragédia que aconteceu no mesmo lugar onde passearam.
“Hoje a gente saber que teve a tragédia no mesmo local que a gente estava foi bem assustador”, contou Heron.
“Podia ser a gente ali e isso dói muito”, disse o outro turista, Renato Pagotto.

Pedra deslizou sobre turistas em Capitólio — Foto: Reprodução/Redes sociais
Um vídeo mostra o momento em que um dos cânions atinge as lanchas.
Veja o que se sabe até agora:
- O deslizamento ocorreu por volta de 12h30. Ainda não se sabe o que causou o acidente
- Quatro embarcações foram atingidas, segundo o Corpo de Bombeiros
- Sete pessoas morreram. Ao menos quatro seguem internadas
- Os mortos são três mulheres e quatros homens
- Vinte e sete pessoas foram atendidas e liberadas
- Marinha vai investigar a causa do acidente
- Defesa Civil havia emitido um alerta sobre chuvas intensas na região com possibilidade de “cabeça d’água”; Marinha também investiga por que os passeios foram mantidos

Feridos em acidente em Capitólio (MG) foram levados para cidades próximas; veja no infográfico — Foto: G1
A região de Capitólio e outras cidades banhadas pelo Lago de Furnas, no Centro-Oeste de Minas, é bastante procurada por turistas por sua beleza natural.
Assim como outras partes do estado, a região tem sido atingida pelas chuvas recentes: na sexta, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) havia emitido um alerta de chuvas intensas, que durariam até a manhã de sábado.
No sábado, Defesa Civil de Minas Gerais havia feito um alerta sobre chuvas intensas e a possibilidade de ocorrências de “cabeça d’água’ em Capitólio, mas não há confirmação que essa foi a causa do acidente. A Marinha disse que investiga o motivo de os passeios serem mantidos.
O porta-voz do Corpo de Bombeiros de Minas, Pedro Aihara, explicou que a formação rochosa do local é do tipo sedimentar, o que torna as estruturas dos paredões frágeis, e a quantidade de chuvas agravou a situação por acelerar a erosão.
“A gente tem uma formação rochosa que é basicamente composta por rochas sedimentares, então são rochas que naturalmente têm uma resistência muito menor à atuação dos ventos, da água, dos elementos naturais que atuam sobre a região”, explicou Aihara.
“Uma outra situação que acabou infelizmente agravando foi porque a rocha cai numa trajetória perpendicular. Geralmente, quando a gente tem ruptura por tombamento, a rocha sai de uma forma mais fatiada, ela escorre por aquela estrutura e cai de uma forma ou diagonal ou então mesmo em pé. Nesse caso, como a gente teve esse tombamento perpendicular, e pelo tamanho da rocha, a gente acabou tendo essas pessoas diretamente afetadas”, explicou o bombeiro.
Para o especialista em gerenciamento de risco, Gustavo Cunha Melo, uma tromba d’água – inicialmente citada pelos bombeiros como motivo do deslizamento – pode ter agido como um gatilho para o deslizamento, mas não foi necessariamente a causa do problema.
Para Melo, a rocha se desprenderia de qualquer jeito, por causa da erosão.
“Essa rocha já estava com muita erosão, totalmente fragmentada, ela iria desabar em algum momento. A tromba d’água pode explicar o desabamento neste momento? Pode, assim como também não precisava nada – ela ia desabar em algum momento por erosão, por um processo natural”, afirmou.
Nesses casos, segundo o especialista, o gerenciamento de risco consiste em isolar o local.
“Não tem muito o que fazer nessas situações. O gerenciamento de risco é: manter distância. Você tem que isolar a área. A única gestão de risco que é feita é isolar a área. Infelizmente ali as embarcações estavam muito próximas e o desabamento aconteceu nesse mesmo momento”, explicou Melo.
O geólogo Fábio Braz, da Sociedade Brasileira de Geologia, relacionou o desprendimento das rochas às chuvas – intensas e por um longo período – e classificou o acidente como “raro”.
“Fica cada vez mais evidente que realmente as fortes chuvas contribuíram para a queda desse bloco. Esse fraturamento vertical é típico de regiões de cânion. A gente também observa nos cânions do Rio São Francisco o mesmo tipo de feição”, explicou.
“É um fenômeno raro. Não descaracteriza o apelo turístico da região de Capitólio. É preciso, sim, que sejam tomadas, a partir dessa tragédia, as precauções necessárias, as distâncias, que seja calculado por especialistas na área de geotecnia qual a distância segura desses paredões”, disse Braz.
Um segundo vídeo mostra passageiros de uma das lanchas tentando avisar sobre o deslizamento da pedra segundos antes.
O governador de Minas, Romeu Zema (Novo), lamentou o acidente na rede social Twitter.
“Sofremos hoje a dor de uma tragédia em nosso estado, devido às fortes chuvas, que provocaram o desprendimento de um paredão de pedras no lago de Furnas, em Capitólio. O Governo de Minas está presente desde os primeiros momentos através da Defesa Civil e Corpo de Bombeiros”, escreveu Zema.
“Os trabalhos de resgate ainda estão em andamento. Solidarizo com as famílias neste difícil momento. Seguiremos atuando para fornecer o apoio e amparo necessários”, completou.
Vídeo / deslizamento de pedras atinge embarcações com turistas em Capitólio, MG