Há 259 dias eu seguia para Belém, Pará, e usando o teclado do telefone celular escrevi: Mas dentro de um avião não dá pra querer muita coisa, principalmente porque a bateria do notebook acaba muito rápido. Gastei a bateria toda enquanto aguardava a partida do vôo. O crescimento econômico nos fez usar com maior freqüência o avião como meio de transporte. Tem dia que é mais barato que a passagem de ônibus. Por outro lado, a qualidade do serviço não é a mesma de antigamente. Na minha primeira viagem de avião a aeromoça, que hoje se chama comissária de bordo, me serviu uma refeição com arroz, purê de batata, picanha ao molho de Champion, salada e bebida a gosto.
Hoje, em uma viagem de quatro horas, me serviram um pacote de biscoito doce com duas unidades. É aquele pequeno mesmo, que nas nossas casas a gente já leva uns seis por vezes a boca. Vou abrir a embalagem de batata, contém 18 gramas. Gente! Por que não tem pelo menos 20 gramas? Pronto, uma enfiada de mão e só tem os farelos. Penso que as embalagens devem custar dez vezes o valor do conteúdo. No passado as pessoas desprovidas do vil metal levavam a matutagem nas viagens de ônibus. O passageiro do lado virava e perguntava se você queria uma mãozada de farofa; uma asa de frango; um torresmo ou o que sobrou da marmita. Não vai demorar muito e teremos estes privilégios nas viagens de avião. E ai tia Luzia, dá pra deixar eu dar uma mordida nesse seu pedaço de broa? Obrigado. A senhora quer dar uma golada na minha garrafa de caldo de cana? Não meu filho, tenho azia.
Opa! parece que estamos chegando. Vou ficar aqui em Belém. Boa viagem pra senhora até Marabá. Quem sabe a gente não se encontra por ai, no mês que vem eu vou para Cuiabá. Eu tenho uma filha em Rondonópolis, também vou para aquelas bandas em breve. Leva mais farofa dona Luzia, por que esses negócios de biscoitinho, batatinha e barra de cereais não enche barriga. Pode deixar, eu não ando desprevenida. Vai com Deus. Fica com Ele. Tial. Tial.
Hoje, 07 de agosto de 2012, eu estava em um vôo Cuiabá,MT, com destino a Vitória,ES, quando a moça passa e diz que vai passar com o menu para o cliente comprar os itens colocados à sua disposição. Pensei. Será que pagando eu vou poder pedir aquele bife de antigamente?. Quiça uma porção de batas fritas. Não importa, desde que haja comida de verdade. Dou uma olhada no cardápio da Cia e vejo: pão com queijo e presunto…..R$ 12,00. Macarrão instantâneo….R$ 12,00. Refrigerante…R$ 5,00 e cerveja R$ 5,00. Olhei, porém, disse que não queria comer nada. Que saudades das barrinhas de cereais e dos biscoitos de 18 gramas! Este macarrão dos três minutos na água quente me da enjôo. Era o que comia quando morava sozinho e tinha preguiça de sair para jantar. Nunca a cerveja pode ter o mesmo preço do refrigerante, este sempre foi mais em conta.
Minha esposa pede uma sopa e acreditava eu que viria um prato fundo e uma colher própria. Engano puro. A moça trás um copo de plástico com a metade de sopa, para ser degustada com uma colher de plástico. Isto é muito humilhante. Copo sempre foi para tomar água ou outra bebida fria. Bebida quentes em xícaras e bebidas finas em taças. Sopa tem que ser em prato fundo ou uma vasilha tipo cuia. Se é para cobrar, o melhor é deixar o pessoal entrar nas aeronaves para vender. Assim ouviríamos: olha a empada fresquinha; quem vai quer a pamonha? o churrasquinho, etc. Também os meninos das caixas de isopor venderiam a cerveja a três reais. Mas o que me irrita é quando vem o Comissário de Bordo e manda: Senhor, por favor, queira voltar sua poltrona para a posição vertical. Quando foi que a cadeira esteve na horizontal? Você aperta o botão lateral e o máximo que o encosto cede é 3,8 cm. O cidadão que não obedecer pode sair preso da aeronave. Dependendo do trecho, é até melhor viajar de ônibus leito.
Texto: Creumir Guerra
Creumir Guerra é Promotor de Justiça no Estado do Espírito Santo
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